Grupo de bolsonaristas em manifestação de apoio ao presidente carregam caixão e gritam "fechado com Bolsonaro".
Redação

No dia 17 de maio, uma jornalista levou uma bandeirada na cabeça enquanto fazia a cobertura de uma manifestação de bolsonaristas em Brasília. No mesmo dia, um grupo de paraquedistas veteranos fardados fez uma saudação a Bolsonaro gritando “Bolsonaro somos nós” enquanto levantavam um braço, lembrando a saudação nazista “Heil Hitler”.

No dia 1º de maio, em protesto realizado em Brasília, profissionais da saúde também foram alvo de ataques. “Vocês não vão destruir esta nação”, disse um dos homens de verde e amarelo, chamando os profissionais de “analfabetos funcionais” e “esquerdopatas”. “Nós vamos varrer os comunistas desta nação”, continuou.

O protesto era silencioso. Vestidos de jalecos e máscaras e empunhando cruzes, enfermeiros e técnicos da área estenderam uma faixa e pediam para as pessoas ficarem em casa. Um dos agressores é Renan da Silva Sena, funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH), comandado pela ministra Damares Alves. Renan agrediu uma enfermeira com palavras e cusparada no rosto.

Desde o dia 1º de maio, bolsonaristas do grupo chamado 300 do Brasil estão acampados em Brasília. Eles defendem um golpe e o fechamento do Congresso e do STF. Um de seus principais objetivos é “exterminar a esquerda”. Fazem atos de apoio a Bolsonaro todos os domingos no Palácio do Planalto, coordenando carreatas da morte e churrascos em apoio ao presidente.

Uma das líderes do grupo, Sara Winter, disse que estão armados. “Essas armas servem para a proteção dos próprios membros do acampamento”, disse. Aliás, ela é uma conhecida simpatizante do nazismo e tem a cruz de ferro tatuada no corpo. Há denúncias de que o 300 do Brasil realiza “treinamentos, recomendações para ‘roupas adequadas para treinamentos físicos de combate’” segundo uma jornalista infiltrada no grupo.

Trata-se de um grupo paramilitar nitidamente fascista que reúne gente desesperada, a maioria da pequena burguesia arruinada, e delinquentes que têm por objetivo criar bandos armados para apoiar Bolsonaro e seus amigos milicianos. Pelos vídeos e pelas postagens do grupo, também é possível deduzir que há presença de ex-militares.

Bandos armados e fascismo

Esse grupo assume uma característica singular do fascismo. Diferente de outros regimes ditatoriais, que se basearam numa instituição do Estado como as Forças Armadas, o fascismo se apoia em grupos paramilitares enraizados num setor social.

Obviamente, os grupos Bolsonaristas são francamente minoritários no Brasil, mas seu projeto estratégico é aniquilar os direitos democráticos e exterminar todo ativismo social. Sua ideologia busca envolver a pequena burguesia no pesadelo de uma suposta conspiração comunista contra a nação. Para isso, apoiam-se na divulgação massiva de fake news e de todo tipo de obscurantismo científico que busca ocultar a realidade dos fatos: quem produz a catástrofe em que o país mergulhou é o próprio Bolsonaro.

Não se discute, se combate

A crescente rejeição de Bolsonaro e o aumento de sua fragilidade (leia mais na página 6) não colocam no horizonte um crescimento de massas desses grupos fascistas no próximo período. No entanto, como nos lembra o revolucionário Leon Trotsky, “com o fascismo não se discute, com o fascismo se combate”. Não se pode atuar com o fascismo disputando sua influência entre os trabalhadores e as massas por meio da atividade política tradicional. É preciso confrontá-lo. Isso já foi feito no passado para enfrentar o integralismo da década de 1930 (leia abaixo). É óbvio que, numa situação de isolamento, necessário para deter o coronavírus, é impossível fazer um enfrentamento desse tipo. Mas os setores que são agredidos em manifestações, como os profissionais da saúde, têm todo o direito de organizar sua autodefesa.

Não podemos ficar indiferentes a essas agressões. Por isso, os trabalhadores, a partir de suas bases, têm o direito de organização e de luta, de divulgar de forma ampla as barbaridades ocorridas e de revidar.

HISTÓRIA
“Fascista não corre, voa”

Revoada dos galinhas verde: fuga dos integralistas na Batalha da Sé

A Ação Integralista foi grupo fascista brasileiro que defendia o combate aos sindicatos e às organizações de esquerda. Seus militantes usavam uniformes militares verde-oliva e ficaram conhecidos como “galinhas verdes”.

Procurando barrar sua influência, a organização trotskista Liga Internacionalista Comunista (LCI), dirigida por Mario Pedrosa, propôs a criação de uma Frente Única Antifascista (FUA), que reuniu várias organizações operárias.

No dia 7 de outubro de 1934, os integralistas pretendiam fazer um grande comício na Praça da Sé, em São Paulo. Levaram cerca de 8 mil pessoas e começaram a marchar pelas ruas da capital paulista entoando seus hinos fascistas.

Dias antes, porém, a FUA preparara, com todas as organizações operárias de São Paulo, uma contramanifestação para dissolver o comício fascista. A “Batalha da Praça da Sé”, como ficou conhecida, durou horas no centro de São Paulo, até que o comício integralista foi dissolvido. A debandada geral dos integralistas ficou conhecida na história como a “revoada das galinhas verdes”.