Trabalhadores da construção civil de Suape

Maus tratos, superexploração, baixos salários e mortes revoltam e levam quase 100 mil trabalhadores a cruzarem os braçosUma onda de greves se espalhou pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em todas as regiões do país. No total, o número de trabalhadores que cruzaram os braços aproxima-se de 100 mil.

O tema ganhou maior evidência a partir dos episódios ocorridos nas obras de construção da hidrelétrica do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), em Rondônia, onde 35 mil trabalhadores levantaram-se contra uma situação de total humilhação, desrespeito e superexploração.

No Ceará, nas obras da refinaria do Pecém, aproximadamente seis mil cruzaram os braços e exigem melhores condições de trabalho, enquanto outros 40 mil pararam suas atividades e realizaram protestos nas obras da refinaria Abreu e Lima e no pólo petroquímico em Suape, no estado de Pernambuco (leia ao lado). Em Caraguatatuba, litoral de São Paulo, são aproximadamente três mil em greve, entre trabalhadores das obras e petroleiros da Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba (UTGCA) da Petrobras.

A última reação dos trabalhadores aconteceu nas obras da hidrelétrica de Mato Grosso do Sul onde, após um segurança agredir um trabalhador e atirar dentro do canteiro, houve manifestações que tiveram como consequência a queima de vários alojamentos.

Nas obras, o trabalho “mortifica” o homem!
O que estamos assistindo nessas manifestações é a explosão de milhares de trabalhadores contra uma situação intolerável, fruto do abuso das empreiteiras, da omissão do Estado e do aprofundamento de uma prática sindical de colaboração de classes e atrelamento desses “dirigentes” aos governos, especialmente ao governo federal.

É nesse quadro que as velhas práticas de humilhação, desrespeito, violência e preconceito são introduzidas e se espalham entres esses milhares de operários concentrados nas obras do PAC. Dessa maneira, grandes empreiteiras sentem-se à vontade para impor as mais arcaicas e nefastas formas de tratamento a seus empregados.

Um levantamento feito pelo jornal O Globo em 21 grandes empreendimentos do PAC registrou-se a morte de 40 trabalhadores. Apenas em Jirau já foram seis. Há um processo desenfreado de subcontratação e terceirização que provoca grandes diferenças salariais entre trabalhadores com a mesma profissão e num mesmo canteiro de obra. Grande parte dos operários vem de diversas cidades e regiões distantes e fica “alojada” no local da construção. Na maioria dos casos, eles só têm direito a uma “folga”, de apenas uma semana, a cada 120 dias trabalhados.

Como disse um operário, “na obra tem fila pro banheiro, fila pro almoço, fila pra receber o salário, tem fila pra tudo”. Todo esse cenário também ocorre em meio a uma pressão violenta dos encarregados e chefes de campo, que maltratam os trabalhadores. As empreiteiras adotam fortes esquemas de “segurança” que, como podemos ver nos noticiários, agridem e oprimem os operários frequentemente.

Humilhados e com baixos salários, sentem as dores da distância e da perda sem amparo, nem proteção. Até mesmo o sindicato que devia defendê-los atira contra eles, como ocorreu em Suape e Rondônia. No Jirau, dois sindicatos (um filiado à Força Sindical e outro à CUT) se enfrentam numa disputa de representação, enquanto o caos segue no canteiro da obra.

Quem lucra com a superexploração
No entanto, se os trabalhadores sofrem com a falta de amparo, as obras do PAC são um verdadeiro presente para as empreiteiras. Todas elas contam com generoso financiamento público através do BNDES. Só em 2009, os empréstimos do banco para infraestrutura chegaram a quase R$ 49 bilhões. Para a construção civil, o volume foi de R$ 6,6 bilhões. O montante representou mais de 40% de todo o empréstimo feito pelo banco em 2009. Ou seja, o financiamento público das obras do PAC garante lucro certo às empreiteiras que, para aumentar sua taxa de retorno, impõem esta situação de barbárie nos canteiros de obras.

Mas as empreiteiras agradecem a generosidade do governo petista com polpudas doações de campanha. Na eleição passada, as construtoras doaram para a campanha de Dilma mais de R$ 107 milhões, o que representou 41% das doações para a candidata e para o Diretório Nacional do PT. As principais doações vieram da Camargo Corrêa (R$ 13 milhões), Andrade Gutierrez (R$ 15,7 milhões), OAS (R$ 9,7 milhões), Queiroz Galvão (7,8 milhões) e Odebrecht (R$ 2,4 milhões). Todas elas tem contratos com as obras do PAC.