Foto Roosevelt Cássio/Sindmetal/SJC
Ana Cristina, de São José dos Campos (SP)

Uma manifestação pelo centro de São José dos Campos (SP), nesta quinta-feira (15), chamou a atenção para a luta que centenas de operárias metalúrgicas realizam há dez dias na região na defesa dos empregos. Em passeata, as trabalhadoras da Sun Tech, Blue Tech e 3C, fornecedoras da LG, caminharam do centro da cidade até a Prefeitura para cobrar medidas do governo municipal, comandado por Felício Ramuth (PSDB).

Com faixas, falas no carro de som e palavras de ordem, as manifestantes denunciaram a grave situação que estão vivendo, na iminência de uma demissão em massa de quase 1.500 trabalhadoras de quatro fábricas da região nos próximos meses, após a LG anunciar que irá encerrar a produção de smartphones em todo o mundo.

Foi mais um protesto organizado por essas trabalhadoras, que estão em greve desde o dia 6 de abril e tem se mantido fortemente mobilizadas com a realização de atos e passeatas e, principalmente, mantendo piquetes nas portas das três fábricas para impedir que haja a retirada de qualquer maquinário ou equipamento.

A preocupação com o sustento

Os relatos das trabalhadoras revelam o dia a dia de trabalho nas três empresas fornecedoras, marcado por jornadas extensas, com muitas horas extras, e pressão para atender a demanda da multinacional sul-coreana LG. Para essas mulheres, muitas das quais são o único sustento de suas famílias, o medo do desemprego assusta, e a luta que estão travando é a esperança de garantir seus direitos.

A jovem Suzana da Silva Carvalho, com 26 anos idade, era uma das manifestantes. Funcionária da Blue Tech há dois anos e seis meses, ela disse que está muito preocupada. Mãe de uma filha, ela é a única responsável pelo sustento da sua casa, onde também mora com sua mãe que tem uma deficiência auditiva.

A maioria aqui é chefe de família, o único sustento da casa. Como a gente vai fazer, pois se depender deles a gente sai com uma mão na frente, outra atrás”, disse. “Para trabalhar, a gente deixa filho em casa. Deixamos até de cuidar da nossa saúde para trabalhar. Tudo isso para chegar numa situação como agora em que essas empresas deixam a gente na mão”, falou com indignação.

A gente sabe como está a situação aqui fora. Não tem emprego. Muitas fábricas fechando. Não vai ser fácil arranjar outro emprego. E o pior é que além de anunciaram o fechamento da fábrica, a gente ainda tem de lutar até para receber os nossos direitos”, disse também .

Camila, funcionária há dois anos na 3C, que fica em Caçapava, também destacou o temor com o desemprego. Segundo ela, seu salário é fundamental para junto com o marido garantir as despesas da família, que também conta com uma filha de 10 meses. “A gente trabalhava de segunda a sábado, entrava às 5 horas da manhã até às 6 horas da tarde, fazendo hora extra. Trabalhei até o último dia da gravidez e agora temos de passar por isso”, disse.

A greve e os piquetes

São dez dias de paralisação. Diariamente, estas trabalhadoras e trabalhadores, grande parte pela primeira vez, vivem uma importante experiência de auto-organização a partir de decisões simples, como garantir o revezamento e as condições mínimas para ficar o dia todo na porta das fábricas, e decidir os rumos da mobilização.

Camila conta que nunca fez greve, mas hoje tem participado dos piquetes. “A gente se reveza. O medo é que eles possam retirar as máquinas. Estamos lutando por nossos direitos”, afirmou.

Suzana também acredita que a mobilização que estão realizando é importante. “É uma forma de a gente tocar no ponto deles, né. Sair na mídia, fazer a sociedade saber o que está acontecendo”, opinou.

Todo plano que a LG mandava para a 3C a gente dava conta. Mesmo com dor eu já trabalhei. Só não chorava, porque tenho meus filhos em casa”, conta a trabalhadora Angélica, de 31 anos.

Esse fechamento vem sem aviso prévio. Muitos trabalhadores se endividaram. Muitos vão ficar à mercê apenas de uma rescisão, pois muitos não terão nem seguro desemprego, pois tem menos de um ano. A LG não tá falindo. Ela tá fechando para investir em outros setores. Então a gente quer a nossa parte, que dividam com a gente, o que a gente ajudou a construir”.