Leia a nota do PSTU sobre a greve de 11 dias que parou a fábrica da montadora na Anchieta

Sexta, 16 de janeiro, 8h da manhã. Os carros e caminhões que passam pela Anchieta, em São Bernardo do Campo, desta vez, passam devagar tentando espiar o que milhares de trabalhadores fazem no pátio da imponente Volkswagen.  Atrás das grades que cercam a fábrica, milhares de trabalhadores carregam em seu rosto a marca de anos de trabalho, mas também de dias de greve e sol forte, e de uma vitória que contagia.

Após onze dias de greve e mobilização em defesa dos 800 demitidos, os trabalhadores da Volkswagen reconquistaram, com a sua luta, o emprego dos colegas. Contra todo o discurso do individualismo que a empresa faz todos os dias, companheiros de luta e de trabalho davam as mãos e abraçavam os reintegrados. Outros ligavam para seus familiares para contar a notícia. Era possível ver o cansaço em cada rosto, mas, sobretudo, a força moral de quem acabou de vencer uma batalha contra a patronal.

Foram 800 demitidos por telegrama com a frieza típica de quem só pensa em seus lucros. Em resposta a isso, não foram 800 trabalhadores que abaixaram a cabeça, mas 13 mil que cruzaram os braços e exigiram da maior montadora do mundo que reintegrasse seus colegas. Dia 6 os trabalhadores falaram: “Demitiu, parou!”. Neste dia, os trabalhadores da Volks nos mostraram:” Parou, reintegrou”!

Não faltou força desde o primeiro dia para manter 100% de paralisação na produção, com piquetes diários para evitar que a pressão da chefia minasse o movimento. A passeata na Anchieta, sob um sol forte, mostrou para o país que, quando os trabalhadores se unem, a sua força é incalculável.

Houve muita solidariedade dos trabalhadores de outras plantas da Volks, além da Mercedes, Ford e também de outras categorias e sindicatos como a CSP-Conlutas, CUT, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a juventude da Anel, estudantes da USP, representantes dos professores de Santo André, São Bernardo e São Paulo. Isso foi também determinante para levar a greve para fora dos muros da Volks e ganhar o apoio da população e de todos os trabalhadores.

Foi assim, com greve e mobilização, que os metalúrgicos do ABC mostraram o caminho para enfrentar as demissões que começam a ocorrer no país todo e mostrar para os patrões que não será fácil jogar a crise nas costas dos trabalhadores. Agora vai ser assim: Demitiu, parou!

Essa força e disposição de luta vêm desde dezembro quando os trabalhadores se negaram a aceitar o acordo proposto pela Volks e defendido em assembleia pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no qual ficariam sem nenhum reajuste salarial, nem mesmo a inflação.

Agora, os trabalhadores receberão, no reajuste salarial de 2015, o valor correspondente à reposição da inflação na forma de um acréscimo ao abono e não incorporado ao salário, o que não é bom. O acordo tem pontos ruins, mas como o objetivo fundamental da greve era reverter as demissões, o que foi alcançado com a força da mobilização, estamos diante de uma vitória inegável.

Nem mesmo essas mudanças na proposta de dezembro a empresa estava disposta a ceder antes da greve:  propunha zero reajuste salarial, nem mesmo a inflação e depois, de forma arbitrária,  desafiou os trabalhadores pagando metade da PLR e demitindo.

Dilma, por que não decretar uma lei que garanta a estabilidade no emprego?
Apesar de vários apelos, Dilma não se pronunciou diante das demissões. As conversas com ministros não concretizaram nenhuma medida imediata que tirasse os trabalhadores dessa aflição.

O tratamento tem sido bem diferente quando se trata das montadoras pedindo “socorro” sempre atendido pelo governo com redução de IPI, empréstimo do BNDES, etc. Nos últimos 10 anos foram R$ 27 bilhões para essas empresas. Enquanto isso, elas mandaram R$ 30 bilhões para fora do país em remessa de lucros. Essa farra tem que acabar!

Quando se trata das necessidades dos trabalhadores, tudo é para depois, tudo “tem que passar pelo Congresso”, nada é possível.

O PPE (Programa de Proteção ao Emprego) que o sindicato do ABC vem exigindo não resolve de forma definitiva o problema. O programa propõe que o governo pague parte do salário dos trabalhadores em momentos de crise, ou em lay-off, ou com redução da jornada de trabalho. Porém, isso não deixa de ser dinheiro público para assegurar o lucro das empresas. Além do mais, já está mais que demonstrado pela experiência concreta dos próprios trabalhadores da Volks que dinheiro público para as empresas não garante emprego.

 Programa de Proteção ao Emprego de verdade deve começar por proibir as demissões! Não pode ser que as montadoras, como a Volks por exemplo, que acaba de se tornar a maior montadora do mundo, faça isso às custas de demissões e retirada de direitos dos trabalhadores. Se a remessa de lucros para o exterior fosse proibida, seria possível manter todos os empregos sem que se sacrifique o dinheiro público da educação, saúde, Previdência, etc.

A luta não para por aí
Os operários da Volks, junto com todos os trabalhadores, especialmente no setor automotivo, devem seguir mobilizados, organizados e, mais do que nunca, de cabeça erguida, pois os ataques não vão parar por aí. Caso a produção não melhore, as montadoras tentarão demitir novamente, ou mesmo insistir em retirar ainda mais direitos. A greve mostrou que a única forma de resistir a esses ataques é a luta.

Mas as lutas terão que ser travadas para muito além dos muros da Volks, pois o governo está também fazendo muitos ataques que, muito diferente do que Dilma afirmou na posse, sacrificam sim os trabalhadores e o povo. No fim do ano passado o governo mudou as regras do seguro-desemprego, prejudicando em especial os trabalhadores mais expostos à rotatividade. Também mudou para pior várias regras relativas à Seguridade Social. Recentemente foi o corte no Orçamento que atingiu em cheio as verbas para educação. Agora vem o aumento da energia elétrica.

Na eleição todos falavam de mudança. Dilma afirmou que não cortaria direitos nem que a vaca tossisse, mas começa compondo o governo com o banqueiro Joaquim Levy e a ruralista Kátia Abreu, e fazendo o oposto do que afirmou na campanha.

É preciso unificar as lutas contra os patrões e também contra os ataques do governo, pois se tem uma lição a ser tirada desta greve é que podemos arrancar vitórias se seguimos a luta!