Após oito dias de intensa mobilização e muita luta, chegou ao fim, na sexta-feira passada, a greve dos rodoviários de Itabuna, no sul da Bahia. O fim da paralisação ocorreu em assembleia realizada na sede do sindicato com a aceitação, pela categoria, do reajuste de 12% para motoristas e 5% para cobradores.

A mobilização dos rodoviários de Itabuna foi um importante marco de luta da classe trabalhadora baiana. Servindo de exemplo para todos os setores da classe, demonstrou que é possível arrancar reajustes e manter direitos mesmo no período de crise econômica.

A greve, que teve 100% de adesão, foi a resposta aos últimos 12 anos de defasagem salarial, jornada excessiva e perda de direitos. Durante este mesmo período, a tarifa de ônibus foi reajustada em 365%. Enquanto isso, os salários subiram apenas 75%, restando aos trabalhadores redução do poder de compra e sobrevivência precária.

A burguesia dona das empresas de ônibus mais do que triplicaram seu faturamento, ampliaram o números de linhas, compraram novos ônibus e até mesmo helicópteros. Para se ter uma idéia, há 12 anos um motorista recebia o equivalente a quatro salários mínimos. Hoje, não chega nem a dois salários.

A greve
Os piquetes nas portas das empresas começaram antes do nascer do sol. Eram 3h da madrugada do dia 14, quando cerca de 400 motoristas, cobradores e fiscais fizeram barreiras humanas nas portas das garagens para impedir a saída dos veículos. Os rodoviários impediram os ônibus de entrar e sair da Rodoviária de Itabuna. Todos os 800 ônibus que fazem as linhas intermunicipais e interestaduais ficaram sem circular.

Em Itabuna, por dia, uma média de 45 mil passageiros utiliza o transporte coletivo urbano, com a segunda tarifa mais cara da Bahia (R$ 2) e uma população de 210 mil habitantes. Só perde para a capital Salvador, onde a tarifa custa R$ 2,20 e tem 2,9 milhões de habitantes. Esse foi, sem dúvida, o principal motivo pelo qual a população da cidade apoiou o movimento dos rodoviários.

No sábado, dia 16, a categoria conseguiu impor uma primeira grande vitória contra os patrões. A empresa Águia Branca, temendo prejuízos, rompeu com o sindicato patronal que inclui além desta empresa, a Rota, a São Miguel e a Viação Cachoeira, e concedeu reajuste de 16%.

Neste mesmo dia, os empresários conseguiram liminar, expedida pelo Tribunal Regional do Trabalho em Salvador, que garantiu a circulação de 30% da frota em horários normais e 50% nos horários de pico. Em resposta à liminar os trabalhadores aprovaram em assembleia a “operação tartaruga”, com a circulação parcial dos ônibus abaixo dos 30 km/h.

Nestes oito dias de paralisação, os rodoviários de Itabuna enfrentaram muita pressão dos empresários e de setores da mídia. As empresas, por exemplo, ensaiaram contratação emergencial de motoristas e cobradores, mas foram barrados pela pressão da categoria. Ameaçaram extinguir o passe-livre dos rodoviários e implantar um sistema de Smart Card com direito a apenas duas passagens gratuitas por dia. Anunciaram cortar até mesmo o tíquete-alimentação sob a alegação de que a jornada de oito horas diárias pode ser cumprida sem paradas para refeição, um verdadeiro absurdo.

De que lado a CUT e o PT sambam?
Durante todos os dias da greve, a direção do Sindicato dos Rodoviários (Sindrod), filiado à CUT, tentou manobrar as negociações e aprovar acordos rebaixados. Mesmo diante da enorme defasagem salarial, os pelegos do sindicato defendiam, nas assembleias, propostas de reajustes bem abaixo da reivindicação inicial, o que causava grande revolta na categoria.

Iruman Contreiras, reconhecido dirigente do PT no municípoi e advogado do sindicato, chegou a defender as propostas das empresas e apelar para o fim da greve no segundo dia de paralisação. A proposta foi rechaçada pelos rodoviários, dispostos a ir até o fim com a luta.

Durante toda a semana da greve, a direção do Sindrod não convocou assembleias para discutir com a base o andamento das negociações e a organização de atividades para esclarecer a população sobre os motivos do movimento. Fez, na prática, o jogo da patronal que, em parceria com a mídia, procurava descredibilizar a categoria e os motivos da greve.

Entre os rodoviários, o clima de tensão era constante. Estavam desinformados do que acontecia nas mesas de negociação. Sequer um panfleto foi confeccionado para informar a categoria. Utilizando a velha tática da burocracia de manter a base afastada ao máximo das negociações para passar o trator nas assembleias e aprovar acordos rebaixados, a direção do Sindrod, a seu modo, encaminhava a operação “fura greve”. Houve muita revolta da base com essa postura de esconder o jogo e muita desconfiança com relação às propostas defendidas pela CUT e pelo PT.

As direções dos sindicatos filiados à CTB (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Têxteis, Sindicato dos Bancários e Sindicato dos Comerciários) também compareceram aos piquetes e declaram apoio ao movimento de greve dos rodoviários. Denunciaram a tarifa em Itabuna que é uma das mais caras da Bahia. Entretanto, por trás dos trabalhadores e da população, esses mesmos sindicatos que compõem o Conselho Municipal de Transporte de Itabuna, o qual tem assento o Sindrod, votaram todos a favor do aumento da tarifa em 13% (passando de R$ 1,80 para R$ 2) em dezembro do ano passado. Aliando-se aos patrões, patrocinaram mais um ataque aos trabalhadores, à juventude e aos desempregados.

Três conclusões a serem tiradas
Em primeiro lugar, a categoria dos rodoviários saiu vitoriosa pelos resultados da greve. Conseguiram protagonizar umas das maiores greves da região das últimas décadas e arrancar em plena recessão econômica no país reajustes salarial.

Em segundo lugar, os trabalhadores sabem que a vitória poderia ter sido maior se a direção do sindicato não cumprisse o lamentável papel que cumpriu, assumindo a defesa de propostas rebaixadas e afastando a base nos momentos da negociação. Organizar uma direção de luta, que esteja disposta a defender os interesses da categoria é fundamental para o triunfo das próximas lutas.

Em terceiro lugar, a greve do peão rodoviário repudiou o conselho de Lula de que os trabalhadores não devem reivindicar reajustes salariais durante a crise. Só a mobilização dos trabalhadores vai defender salário, direitos e empregos.

A Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), uma central sindical e popular a serviço da luta dos trabalhadores, esteve presente nas mobilizações e se coloca a disposição dos rodoviários para organizar uma direção de luta, combativa e comprometida com os interesses dos rodoviários e da população. Viva a luta dos rodoviários!