Policiais são atacados com coquetéis molotovs

Gregos realizam maior e mais radicalizada onda de protestosA quarta greve geral na Grécia este ano paralisou o país e incendiou a capital Atenas nesse dia 5 de maio. A greve paralisou os serviços públicos e os transportes, fechando os aeroportos, o que ocasionou o cancelamento dos vôos no país. Até mesmo setores da imprensa aderiram, paralisando as transmissões de TV e rádio.

Na capital, relatos dão conta que os protestos reuniram de 100 a 200 mil pessoas. Na frente do parlamento, a polícia reprimiu os manifestantes, que tentavam entrar no prédio. Na maior e mais radicalizada onda de protestos desde o início da crise, prédios públicos e bancos foram ocupados e atacados com coquetel molotov. A radicalização dos protestos segue a própria radicalização do pacote de arrocho fiscal do governo, pressionado pela União Europeia para cortar ainda mais as aposentadorias, os salários e gastos sociais.

O presidente do sindicato do funcionalismo público, Spyros Papaspyros, declarou à imprensa que “essa manifestação é duas vezes maior que a maior já vista na Grécia reunindo funcionários públicos”. A polícia grega permaneceu sob estado de “alerta geral”, ou seja, mobilizou praticamente todo o seu efetivo para conter os protestos.

Uma jornalista da revista Alana, Matou Papadimitri, que acompanhou os protestos, relatou o clima da manifestação: “a sensação é que todo o centro de Atenas era uma grande manifestação, super densa, quase claustrofóbica. Ali estavam os sindicatos oficiais, os sindicatos de base, professores, estudantes, funcionários, empregados privados, partidos e grupos políticos de esquerda, libertários, anarquistas, etc. Também havia gente que nunca havia saído às ruas para se manifestar”.

A jornalista relata ainda que, apesar da grande quantidade de gás lacrimogêneo lançado pela polícia, os manifestantes não se intimidaram e gritavam com todas as suas forças: “ladrões, mentirosos”; “que se queime o bordel do Parlamento”; “Fora todos”; “Que paguem os responsáveis”.

Reação
Durante os protestos, o governo e parte da imprensa anunciaram com alarde que três pessoas haviam morrido, vítimas de asfixia supostamente causado por um incêndio provocado por coquetéis molotovs lançados ao banco em que trabalhavam. Foi o que bastou para que o primeiro ministro Papandreous criminalizasse os protestos e os manifestantes.

Já os governos da Europa acompanham com bastante atenção o que se desenrola nas ruas da Grécia. O comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da Europa, Olli Rehh, afirmou que “é absolutamente essencial conter o fogo na Grécia para que ele não se torne um incêndio e uma ameaça à estabilidade financeira da União Europeia e à sua economia como um todo” .

As vítimas fatais eram funcionárias do Marfin Bank, uma das maiores redes bancárias do país. Outro jornalista grego, Dimitris Pantoulas, afirmou que, segundo informações de rádios locais. “os empregados do banco denunciaram que os gerentes do banco não só não permitiram que saíssem da sucursal antes da marcha como, inclusive, trancaram as portas com chave para que ninguém pudesse sair nem entrar“. Ou seja, direta e indiretamente, os responsáveis pelas mortes foram o governo e os bancos, os responsáveis pela crise.

O que vem a seguir
Assim como a União Europeia pressiona a Grécia para impor um brutal ajuste fiscal aos trabalhadores, vai pressionar agora para que o país reprima exemplarmente a onda de protestos que se generaliza cada vez mais. Mais do que a crise, o que a UE teme realmente que se espalhe é a resistência.

O conflito social na Grécia, porém, se aprofunda cada vez mais. À radicalização do pacote de arrocho segue uma radicalização das paralisações e protestos, que vão ganhando cada vez mais apoio popular.

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