A paralisação dos servidores públicos federais decolou. Essa é a avaliação do comando de greve em Brasília. Na reunião realizada ontem, na sede da Coordenação Nacional das Entidades de Servidores Federais (CNESF), as lideranças do funcionalismo público concluíram que o movimento ganhou força e a tendência é de crescimento.

Apesar das informações truncadas divulgadas pela imprensa, a greve por tempo indeterminado já atinge mais de 50% da categoria em todo o país. A programação dos fiscais da Receita Federal, que optaram por paralisar as atividades durante três dias na semana, e os resultados das assembléias realizadas por todas as categorias do serviço público no decorrer desta semana indicam o fortalecimento da greve.

A cada dia que passa mais servidores engrossam a luta contra a reforma da Previdência. A palavra de ordem é forçar o governo a retirar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 40, que reformula o sistema previdenciário em prejuízo dos servidores públicos. Desde o dia 8, quando o funcionalismo deflagrou a greve geral, lideranças do movimento percorrem as instituições federais para intensificar e aprofundar o trabalho de arregimentação dos servidores para a greve.

Estão programadas atividades para os próximos dias 16 e 17 no Congresso Nacional, quando cerca de 200 servidores farão um corpo-a-corpo junto aos parlamentares. O objetivo é convencer os congressistas a não votar na proposta do governo. Na próxima quarta-feira haverá um ato público durante todo o dia no Congresso. A concentração será na Catedral de Brasília. De lá os servidores vão reunir-se no Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados, onde receberão o apoio dos funcionários do Poder Legislativo

No setor de educação, embora o quadro esteja inalterado, a expectativa das lideranças é de que as instituições de ensino, depois das férias de julho, façam assembléias para aderir à greve por tempo indeterminado.

Com a adesão da Universidade de Brasília (UnB), ontem, já somam 25 as instituições de ensino superior paradas e a perspectiva é de que cheguem a 30 até o fim desta semana. Hoje estão previstas assembléias na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade da Paraíba, Campus de Patos.

Em São Paulo, as universidades estaduais já têm indicativo de paralisação para o dia 11 de agosto. O comando de greve dos servidores espera que até o dia da votação da reforma da Previdência toda a categoria esteja mobilizada.

Dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) dão conta de que a paralisação já atingiu 90% da categoria. Na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), o quadro de greve também se mantém inalterado. No entanto, até o final da reunião de ontem do comando de greve, alguns estados ainda estavam decidindo em assembléias se entrariam ou não no movimento. Como forma de incrementar a greve, desde ontem a entidade começou a desencadear estratégias para atrair os trabalhadores.

Os funcionários de 30 universidades ligados à Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Federais Brasileiras (Fasubra) já decidiram pela greve por tempo indeterminado. Com a nova rodada de negociações iniciada ontem, acredita-se que o movimento vai crescer e até o fim desta semana cerca de 40 universidades parem de funcionar, depois de uma paralisação de 72 horas na semana passada.

O Poder Judiciário também vem engrossando o movimento grevista. Indignados com as propostas do governo federal, os servidores da Justiça no âmbito federal iniciaram paralisações de 24 horas. No Rio de Janeiro e em Goiás eles pararam de trabalhar ontem e no Estado de Mato Grosso está prevista uma paralisação de 24 horas para hoje.

No Distrito Federal, os servidores do Judiciário planejam paralisações-relâmpago, também de 24 horas. Quem deu a largada foi o Superior Tribunal Militar (STM), que ontem deixou de funcionar. Mas todos os tribunais superiores e as varas de primeira e segunda instâncias estão com programações de greve de 24 horas para todo o mês de julho. Hoje quem pára é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Amanhã será a vez do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Na quinta-feira será a vez das Varas do Trabalho e na sexta-feira o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e a 10ª Região promovem a greve de 24 horas.

O Ministério Público Federal estará em greve a partir de hoje. Segundo informações do comando, o Ministério Público Federal, que reúne sua maior quantidade de funcionários no Distrito Federal, Maranhão e Alagoas, está com projeto de entrar em greve por tempo indeterminado. A decisão vai depender da reunião que será realizada no próximo dia 16 na Procuradoria Geral do Trabalho em Alagoas.

Em Brasília, a Procuradoria Geral da República fará paralisação no dia 25. Os funcionários da Procuradoria Regional da República e a Procuradoria Regional do Distrito Federal estarão em greve no dia 21. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não vai funcionar no dia 31 de julho.

A paralisação é quase total na Previdência. Cerca de 80% da categoria está em greve por tempo indeterminado. Ontem, durante os piquetes realizados no Rio de Janeiro, uma servidora foi presa pela Polícia Federal. Revoltados, os líderes do movimento se dizem perplexos com a decisão do governo de pôr a Polícia Federal para reprimir a greve no Rio. A funcionária foi posta em liberdade no fim da tarde.

No setor de Saúde a greve atingiu mais da metade da categoria. Boa parte dos servidores, no entanto, trabalhou para manter os serviços essenciais em funcionamento. Na verdade, só a perícia médica, que tinha consultas pré-marcadas, e o serviço 0800 atendiam os pacientes. O objetivo das lideranças do setor, porém, é paralisar totalmente o atendimento, a menos que o governo aceite negociar com os trabalhadores, disse um dos diretores do CNESF.

Nas Escolas Técnicas Federais os servidores estão aderindo paulatinamente ao movimento e intensificando as mobilizações. Segundo o representante do Sinasefe no comando de greve, há hoje 17 instituições paradas, com possibilidades de que esse quadro venha a crescer nos dias 16 e 17, depois dos atos públicos que serão realizados juntamente com o conjunto dos servidores públicos federais.

(Carla Lisboa – CNESF)