Geraldo Rodrigues, de São Paulo (SP)

Os trabalhadores dos Correios estão em greve nacional unificada por tempo indeterminado desde 18 de agosto. A greve une os 36 sindicatos e as duas federações da categoria. A luta é em defesa dos direitos e, principalmente, contra a privatização. A categoria entrou em greve devido à quebra do acordo feito em 2019 no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que a empresa está descumprindo.

Essa é a maior greve nacional dos últimos 30 anos, com adesão de 70% da categoria. O movimento avança com ocupações de importantes centros de encomendas, com destaque para Indaiatuba (SP), que ficou ocupado pelos trabalhadores por mais de 96 horas. Essas ações têm se expandido por todo o país e fortalecido a greve. Já estamos parados há três semanas, e os trabalhadores dos Correios mostram o caminho para derrotar o governo ultraliberal de Bolsonaro, Guedes e Mourão.

SAIBA MAIS

Justiça contra o trabalhador

Em 2019, após a categoria ter feito uma forte greve, o TST julgou e deu uma sentença normativa que garantia um acordo com todas as cláusulas, de vigência por dois anos. Mas a empresa recorreu no STF e, numa decisão monocrática do ministro Dias Toffoli, derrubou a vigência do acordo. Em seguida, o plenário do STF votou por unanimidade a manutenção da liminar da empresa, derrubando a sentença normativa do TST. Isso só confirma que a Justiça tem lado e não é o dos trabalhadores.

COVID-19 E CORREIOS

Mais de 100 trabalhadores já morreram

As funções exercidas pelos trabalhadores dos Correios são consideradas serviço essencial em meio à pandemia. A categoria tem trabalhado mesmo sem as condições necessárias. Para garantir Equipamento de Proteção Individual (EPI), os sindicatos e as federações tiveram de entrar na Justiça, porque a empresa não os forneceu, colocando a vida dos trabalhadores, de seus familiares e da própria população em risco. É uma demonstração de total desrespeito à vida das pessoas.

O presidente dos Correios, o general Floriano Peixoto, usa a mesma política assassina e negacionista de Bolsonaro. Somos a segunda categoria a perder mais trabalhadores durante a pandemia. Já são mais de 120 mortos e milhares de infectados. Esses números foram levantados pelos 36 sindicatos da categoria, já que a direção da empresa não fornece os números exatos, mesmo tendo sido solicitado pelas organizações dos trabalhadores diversas vezes.

QUEREM ROUBAR NOSSO PATRIMÔNIO

Privatização: bilionários estão de olho nos Correios

Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes sempre deixaram explícito o desejo de privatizar os Correios, uma empresa lucrativa. Porém eles insistem em mentir para a população, dizendo é deficitária. Os Correios não dependem de dinheiro público, pois geram lucro. Em 2017, a empresa lucrou R$ 667 milhões; em 2018, foram R$ 161 milhões; e em 2019 foram R$ 102 milhões.

Só nos primeiros seis meses deste ano, a empresa lucrou R$ 614 milhões. Os Correios arrecadam por ano mais de R$ 20 bilhões. É nesse lucro que os gigantes do e-commerce, como o bilionário dono da Amazon, Jeff Bezos, e a chinesa Alibaba, estão de olho. Eles sabem que os Correios são a maior empresa de logística do Brasil.

NÃO À PRIVATIZAÇÃO

Correios 100% público, estatal e sob controle dos trabalhadores

Um dos argumentos que sempre utilizamos para defender os Correios contra a privatização é que a empresa é lucrativa e tem importância social para o povo brasileiro. Os Correios atuam em todos os municípios do país e têm a missão de integração nacional, além das funções sociais e humanitárias. Sua logística é utilizada em casos de calamidade pública, entrega de livros do programa Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), entrega das urnas nas eleições, pagamento das aposentadorias onde não tem sistema bancário e também as provas do Enem.

Outra mentira do governo e da mídia é que a empresa não funciona porque tem monopólio. É bom ressaltar que os Correios detêm o monopólio de cartas e mensagens, mas no segmento de encomendas sofre forte concorrência com outras empresas, a maioria estrangeiras. Ainda assim, as tarifas são menos da metade dos concorrentes como Fedex, DHL e JadLog, que atuam apenas nos grandes centros.

A privatização dos Correios vai acabar com todos esses serviços prestados pela empresa no país e vai encarecer muito a entrega de encomendas. Também abre o caminho para a privatização das demais estatais que lutam contra as privatizações, como Petrobras, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, entre outras.

Os Correios devem ser 100% estatal e sua gestão deve estar nas mãos dos trabalhadores que sabem como funciona a empresa e podem administrá-la de acordo com as necessidades do povo.