Aconteceu na última quinta-feira, 14 de junho, uma das mais fortes greves dos metroviários de São Paulo. A paralisação, que iniciou à meia-noite, atingiu a todas as estações de todas as linhas da capital paulista. Foram quase 14 horas em que os trens não funcionaram, deixando de transportar aproximadamente três milhões de pessoas, segundo a própria empresa. O Metrô deixou de faturar por volta de R$ 6,9 milhões.

Os metroviários apresentaram uma pauta de reivindicações com 17 itens. Entre eles, estavam reajuste salarial de 3,09%; aumento real de 9,98%; reintegração dos diretores demitidos; salário igual para funções iguais; 36 horas para o quadro operativo em vez das 40 horas atuais; concurso para contratação de pessoal; concurso interno.

Proposta rebaixada e traição da maioria do sindicato
Junto com o início da greve, à meia-noite, iniciou, também, uma reunião da direção da empresa com uma comissão representativa da categoria, da qual faziam parte diretores do sindicato ligados ao PCdoB e ao PT, além de Alexandre Leme, membro da diretoria do sindicato dos metroviários e oposição à direção majoritária, ligado à Conlutas, e um membro da Intersindical.

A reunião, que durou até as 2h da madrugada, foi estéril. A empresa apresentou uma proposta que, concretamente, representa apenas 1% a mais no salário dos metroviários. Dos 17 itens da pauta apresentada ao Metrô, 14 foram respondidos, mesmo assim com evasivas e promessas de negociação que dificilmente se efetivarão. De palpável, só o reajuste.

Para conceder essa ínfima proposta, a empresa exigiu que fosse antecipada para as 13h a assembléia que estava marcada para as 17h, apostando no esvaziamento da mesma. A maioria da direção do sindicato, ligada ao PCdoB, aceitou.

Após a reunião com a empresa, foi a vez da diretoria do sindicato se reunir para decidir se antecipava ou não a assembléia. Os representantes da Conlutas e da Intersindical foram contrários à aceitação da proposta da empresa, havia muito mais a conquistar, e a categoria estava disposta a manter a luta até a vitória. Informada da antecipação, até mesmo a imprensa já anunciava que a tendência era a aceitação da proposta do Metrô.

A posição da direção majoritária foi vitoriosa, infelizmente, e a assembléia foi antecipada. A maioria dos metroviários foi pega de surpresa com a mudança e muitos sequer ficaram sabendo. O resultado foi uma assembléia com cerca de 200 pessoas, um número muito aquém do que seria possível reunir se mantida a convocatória inicial.

A maioria da direção do sindicato indicou a aceitação da proposta do Metrô. Os companheiros da Conlutas e da Intersindical argumentaram contra, alegando que quase nada fora atendido. Devido ao esvaziamento e à manobra feita com a troca de horário da assembléia, a proposta rebaixada obteve aproximadamente 65%.

Categoria volta ao trabalho querendo mais conquistas
“Tinha muitas outras reivindicações, como a carga horária de 36 horas para os operadores, a contratação de funcionários para acabar com a sobrecarga que hoje é brutal, a readmissão dos diretores do sindicato demitidos em abril. Nada disso foi atendido. Havia disposição da categoria para arrancar isso e a direção serviu para impedir esta luta”, disse Alexandre Leme, diretor do sindicato e oposição à direção majoritária.

Uma trabalhadora chegou a fazer um comparativo, referindo-se ao desconto que sofreria por conta da paralisação e reclamando do fim da greve: “vou perder quase R$ 100 pelo dia de e vou ganhar só R$ 16 a mais no meu salário quando a gente podia ter conseguido muito mais”.

“A disposição foi traída pela direção majoritária do sindicato, do PCdoB, que capitulou à direção da empresa e suspendeu a greve quando deveria estar insuflando e aprofundando a ação da classe contra a empresa. A direção majoritária foi um freio que impediu o avanço da luta”, afirmou Alexandre.

Apesar de tudo, metroviários mostram sua força
Não por acaso, a empresa havia perdido na Justiça um pedido de cautelar de esquema de emergência. Caso o Tribunal não tivesse negado o pedido, o Metrô poderia exigir funcionamento de emergência aos grevistas e punir os trabalhadores. Essa derrota só se tornou pública após o fim da greve. Ela significava mais uma razão para que a greve fosse mantida, era mais um fator que fortalecia o movimento.

O fato é que a greve fez com que a categoria se reerguesse perante a empresa e o governo, que vêm desferindo diversos ataques contra os metroviários nos últimos meses. “A ação unitária da categoria contra o Metrô foi determinante para erguermos a cabeça e demonstrarmos a nossa força”, declarou Alexandre.

Ele também avalia que a postura da maioria do sindicato foi uma traição. “A maioria da categoria se sente traída, foi à luta e voltou com somente 1% a mais. A categoria se sente traída e impotente em função da direção que tem. Esperamos que esse sentimento se reverta em mais luta e resistência e na construção de uma nova direção nas eleições sindicais, que acontecem em setembro”, concluiu.

O processo eleitoral para a direção do sindicato inicia no próximo dia 27. A oposição à atual diretoria está construindo uma convenção aberta de toda a categoria, com representantes eleitos diretamente pelos trabalhadores em cada local de trabalho, para oferecer uma alternativa de direção que não traia os metroviários como aconteceu nesta última greve.