Greve marcou a história de lutas da região

Os metalúrgicos de Niterói e Itaboraí continuam fazendo história. Depois de 16 dias de greve, considerada ilegal pela Justiça, os metalúrgicos voltaram para a fábrica ainda em estado de mobilização, pois seguiram insatisfeitos com o que foi proposto pela patronal: 8% e o não pagamento dos dias parados.

As fábricas que estiveram na vanguarda da luta, que durante a greve mantiveram-se 100% paradas, seguiram fortes com a mobilização mesmo com o retorno ao trabalho. Os metalúrgicos votaram em assembleia sair da greve e manter o estado de mobilização. No decorrer dos dias, pararam por dentro as fábricas Enaval, UTC e STX. Ao ser apontado possíveis negociações, os trabalhadores retornaram ao trabalho, mas em estado de alerta.

Na segunda-feira, dia 2 de julho, os trabalhadores de UTC resolveram parar novamente. A forte paralisação dobrou a patronal, que teve que atender as reivindicações dos trabalhadores: não pagamento dos dias parados, reajuste de 10%, e vale-alimentação de R$ 160 para R$ 250.

O exemplo da UTC deu muito gás aos trabalhadores da Enaval e STX e, seguindo seu exemplo, pararam para reivindicar o mesmo ganho. Como disse um trabalhador da Enaval no microfone: “Vai criar teia de aranha nas tubulações, mas só voltamos quando derem o que é nosso”. Porém, diferentemente da UTC, os patrões começaram uma onda de perseguição, ameaças e demissões. Na STX, desde a última quarta-feira até o final da manhã de quinta, dia 12, foram demitidos 35 trabalhadores. Ao mesmo tempo, na Enaval foram demitidos 8 trabalhadores.

Entre os demitidos estão cipeiros e membros da Chapa 3, que é oposição ao sindicato pelego e que tem representantes da CSP-Conlutas. Os trabalhadores das duas fábricas seguem parados e disseram em alto e bom som que só retornarão ao trabalho quando a patronal atender suas reivindicações e quando os companheiros demitidos forem reintegrados.

É importante dizer que todos esses dias de luta e paralisações ocorreu por fora da direção do sindicato cutista, que por diversas vezes declarou não reconhecer a greve dos trabalhadores alegando ser uma greve imposta pela chapa 3, a chapa da oposição. Durante a greve a direção utilizou o boletim do sindicato para falar mal da oposição e tentar acabar com a greve. Ao contrário da direção do sindicato, o PSTU e a CSP-Conlutas esteve presente durante todos os dias de greve fazendo piquetes, panfletagens, conversando com o trabalhador na porta da fábrica. As assembleias da categoria eram dirigidas pela base na frente do sindicato, pois a sede permanecia o tempo todo trancada para os trabalhadores.

Na tentativa de se relocalizar diante da base revoltada, a direção do sindicato foi para a porta da fábrica essa semana pedir aos trabalhadores para não parar e esperar as negociações. De nada adiantou. Ao ver que seu discurso não tinha eco, mudou imediatamente de posição, chamando a unidade da categoria e apoiando a paralisação. Essa posição da direção só fez aumentar mais a desconfiança da base junto a eles.

Nessa quinta o SINAVAL, sindicato dos patrões, convocou uma reunião para discutir a situação das fábricas paradas. Foi apresentada uma proposta da empresa Enaval de 9% de aumento, “fome zero” de 130 para 220 reais, pagamento da metade dos dias parados e reintegração de todos os demitidos.

Na STX a exigência é a reintegração dos demitidos, sendo que as negociações seguem. A proposta foi apresentada nessa sexta-feira, 13, em assembleia na porta de fábrica para avaliação dos trabalhadores, onde foi aprovada pela ampla maioria. Uma vitória histórica para os metalúrgicos de Niterói e Itaboraí.

Nas palavras de Paulinho, metalúrgico histórico da categoria, presidente da chapa 3, militante do PSTU e da CSP-Conlutas e que dirigiu junto a base todo o processo de mobilização: “Esta greve entra para a historia da classe operária brasileira. A disposição, a vontade de mudanças dos trabalhadores, a solidariedade de classe foram elementos fundamentais para manter as mobilizações firmes e arrancar conquistas. A unidade dos trabalhadores mostrou que é possível vencer inimigos como os patrões e uma direção sindical pelega. Cabe lembrar que a mobilização que fizemos é só uma faísca do potencial que a nossa categoria e a classe trabalhadora tem”.