Detalhe do cartaz da greve
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Acabou em clima de confraternização e de dever cumprido a greve dos professores do Pará. Depois de 41 dias de greve, a categoria não se curvou diante dos ataques do governo Ana Julia (PT). Durante esse tempo, os professores enfrentaram ameaças, truculência da polícia e autoritarismo do governo. A greve foi suspensa com música e fogos em frente ao Palácio dos Despachos, sede do governo, com a palavra-de-ordem “a luta continua / Ana Júlia a culpa é tua”.

A última assembléia, no dia 4 de junho, em frente à Secretaria de Educação, foi acompanhada por um forte batalhão da Polícia Militar e contou com a presença de mais de 500 trabalhadores. Várias ações contra o governo foram definidas para o segundo semestre. Para a maioria dos presentes, a greve teve uma grande importância política, pois desmascarou o governo de Frente Popular do PT e reacendeu a disposição de luta da categoria que não se via há muitos anos.

Embora os valores dados pelo governo tenham ficado muito abaixo das reivindicações dos trabalhadores, a categoria não se curvou para o governo. Os trabalhadores exigiam 30% de reposição salarial e vale-refeição de R$ 400. O governo deu 6,5% e vale-refeição de R$ 100.

Enquanto Ana Júlia e o PT utilizaram de tudo para derrotar a greve, os trabalhadores responderam com passeatas, atos públicos, bloqueio de ruas, ocupação do gabinete da secretária de educação, enfrentamentos com a polícia, conversas com a população e atividades culturais na Praça da República. O governo teve ao seu lado a imprensa, a Justiça burguesa que julgou a greve abusiva, a propaganda nos bairros com panfletos e carro de som, o assédio moral, entre outras práticas repressivas.

Nem Lula escapou
A vinda de Lula a Belém, em 30 de maio, para participar de evento com governadores do Norte e assinar contratos de obras do PAC, foi marcada por um expressivo ato público dos professores que levou a enfrentamentos com a polícia em frente ao Angar (Centro de Convenções do Estado). O governo foi obrigado a receber uma comissão que entregou as reivindicações da categoria, mesmo com o spray de pimenta e as balas de borracha da polícia do governo.

O ato também denunciou a política entreguista de privatização da Amazônia do governo Lula e suas reformas tendo repercussão nacional.

PT e governo os grandes derrotados
A militância do PT, que atuou na greve com o objetivo de desmontá-la, foi derrotada, principalmente a corrente de Ana Júlia, a Democracia socialista (DS). Vaias e xingamentos foram desferidos várias vezes quando tentavam defender o governo e o fim da greve. No final, nenhum militante do PT tinha coragem de falar no microfone. A categoria ainda votou a saída de um representante do partido da mesa de negociação.

Ficou clara também a divisão no interior do governo durante a greve. Até deputados do PT tentaram intermediar as negociações. A Democracia Socialista fez de tudo pra impor uma derrota à greve, mesmo enfrentando crises dentro do governo.

A Intersindical Estadual, ligada ao PT e que congrega dez sindicatos de servidores públicos estaduais, tentou se apoiar na greve dos professores para construir uma falsa unidade para desgastar a greve. Porém foi desmascarada quando seus sindicatos assinaram acordo com o governo e foram pra imprensa comemorar conjuntamente. A categoria, ao identificar seus verdadeiros inimigos, não titubeou e seguiu forte na luta mesmo com toda propaganda oficial.

Conlutas fez a diferença
A Conlutas militou cotidianamente apoiando política e financeiramente a greve. Vários de seus sindicatos e dirigentes prestaram solidariedade durante a greve e a oposição Alternativa Conlutas na Educação se firmou como uma referencia de esquerda para o conjunto dos professores do Estado.

O papel da Alternativa Conlutas foi determinante, pois a APS (PSOL), corrente que dirige o sindicato não tinha o objetivo de ir a greve. A visita a várias escolas com uma política diferente da direção do sindicato e de oposição ao governo, possibilitou a entrada em greve, levando a categoria a reivindicar a presença de membros da Alternativa na mesa de negociação.

Este reconhecimento possibilitou contatos com vários municípios e ativistas e a vontade de muitos participarem do Congresso da Conlutas em julho. O Sintepp tentando impedir o crescimento da Conlutas publicou um panfleto buscando associar a Conlutas a setores de direita, numa clara tentativa desesperadora e mentirosa de impedir o crescimento da oposição. O próximo passo agora é firmar um bloco principista, de esquerda e independente do governo para construir uma nova direção pro Sintepp.