A euforia de Lula e dos usineiros com a febre do etanol começa a ser questionada pela base desta grande indústria. Vítimas de condições de trabalho extremamente precarizadas, os cortadores de cana-de-açúcar não ficaram calados. As greves se alastram, deixando claro para a sociedade que apenas os empresários têm razões para comemorar a expansão do álcool.

A iniciativa dos trabalhadores goianos, que fizeram greve por seis dias na semana passada, promete fazer vir à tona a insatisfação dos cortadores em todo o país. Há uma semana, as atividades do corte de cana estão paralisadas nas usinas Zanin, em Araraquara, e São Francisco, em Barrinha – ambas cidades do interior de São Paulo, maior produtor de etanol do Brasil. Outras quatro usinas têm turmas em greve ou estão em estado de greve: a Santa Cruz, em Américo Brasiliense; a Santa Adelaide, em Dois Córregos; a Serra, em Ibaté; e a Ruete, em Catanduva. São 5 mil canavieiros em luta por melhores salários. As informações são da Federação dos Empregados Rurais do Estado de São Paulo (Feraesp).

A entidade acredita que 120 mil cortadores de cana – 70% do total – podem entrar em greve no Estado. Para se ter uma idéia, a última greve geral de cortadores de cana ocorreu em 1986.

A data-base da categoria foi em 1º de maio, mas as negociações com os sindicatos patronais não têm avançado. A média salarial da categoria é de apenas R$ 450. Mesmo com o impressionante crescimento da indústria do etanol, os usineiros tiveram a cara-de-pau de propor apenas a reposição da inflação de 5%. A proposta apresentada pela Feraesp na negociação foi de R$ 1.600.

Os trabalhadores reivindicam, ainda, o pagamento por metro de cana cortada (hoje isso é feito por cálculo de áreas, cujos critérios o cortador não tem acesso), fim das terceirizações, condições mais seguras de trabalho e assistência médica e social.

Goiás
Na semana passada, 25 mil canavieiros de Goiás cruzaram os braços. A greve terminou quando a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg) fechou um acordo, no dia 10, que prevê um reajuste de 7% no salário base do cortador de cana, passando para míseros R$ 486,29.

Das 16 usinas em funcionamento no Estado, dez tiveram corte e moagem da cana parados por conta da greve.

Goiás é o quarto maior produtor de etanol do país. Já existem oito usinas sendo construídas e 22 em fase de aprovação, num investimento de bilhões de reais. A rápida expansão do setor no Estado tem o objetivo de fazer com que Goiás chegue ao segundo lugar na produção de álcool, atrás apenas de São Paulo.

LEIA, ABAIXO, TRECHOS DE UM TEXTO DA FERAESP QUE FALA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS CANAVIEIROS:

Alto faturamento do setor, baixa remuneração do trabalhador
Um estudo recente da Universidade de São Carlos, conforme destaca o diretor na Feraesp, Miguel Ferreira dos Santos Filho, dá conta que no Estado de São Paulo, que é o destaque da produção de cana, cada trabalhador corta em média por dia, em troca de R$ 24,00 e para dar conta disso percorre 9 quilômetros a pé, desfere 72 mil golpes de facão e faz 36 mil flexões de perna, carregando 800 montes de 15 kg de cana.

Acidentes e mortes no setor
Ainda de acordo com esse estudo da Ufscar, “de cada 100 acidentes com gente que tem carteira assinada, cinco ocorrem no setor sucroalcooleiro. De 2002 a 2005, foram 83 mil casos. No período, houve 312 mortes em toda a cadeia produtiva do açúcar e álcool”.