Greve foi julgada abusiva, teve intervenção do governo e operação articulada da Força Sindical e Federação Estadual dos Metalúrgicos – CUT com o Sinfavea para isolá-la

Como parte da Campanha Salarial de Emergência organizada pela Federação Nacional dos Metalúrgicos (FENAM), os operários da General Motors de São José dos Campos entraram em greve por tempo indeterminado a partir do dia 22 de abril.
A assembléia que deflagrou o movimento contou com a participação maciça da peãozada, que demonstrou firme disposição de luta. A fábrica tem 10.500 trabalhadores.

Eles reivindicavam reposição da inflação de 10,39% (novembro a fevereiro), gatilho salarial de 3% e redução da jornada de trabalho sem redução de salário. A GM ofereceu um abono de 36% sobre os salários, que foi rejeitado pelos operários. A empresa aumentou a proposta para 56%, e novamente, foi rejeitada. O abono é interessante para as empresas, porque não é incorporado aos salários. O último reajuste nos salários, de 10,26% em novembro, já foi corroído pela a inflação. A categoria queria a reposição da inflação para poder respirar.

Na quinta-feira, dia 24, o Tribunal Regional do Trabalho de Campinas julgou a greve abusiva e determinou o retorno imediato ao trabalho. Mas a assembléia da categoria decidiu manter a greve, mostrando força e garra. “Votamos a continuidade da greve, pois só a luta pode dobrar a intransigência da empresa”, falou Adilson dos Santos, o Índio, diretor do Sindicato.

Neste momento, encontravam-se em greve também a Volvo e a Renault do Paraná. Também a Volks/PR poderia entrar no movimento. As unidades da GM em Gravataí (RS) e São Caetano (SP), por sua vez, estavam parando em função da falta de peças.
O governo, sentindo a força da greve, sua repercussão e, mais importante, a possibilidade de extensão do movimento grevista para outras fábricas e, inclusive categorias, como químicos, interveio para “intermediar” as negociações. A atitude do governo mostrou que essa mobilização poderia ser o estopim que colocasse em xeque a política de contenção de salários do governo.

Na reunião de negociação com a empresa, o governo e a Justiça no dia 28, entretanto,ficou claro que havia uma operação articulada entre a empresa, o governo e a FEM-CUT. Esta, junto com a Força Sindical, haviam assinado um acordo com o Sinfávea em torno da mesma proposta rebaixada da GM e, condicionando o mesmo a outras montadoras. Se alguma fábrica concordasse com algo superior, isto deveria ser automaticamente estendido às demais.

Na negociação, em nenhum momento ousou-se dizer que a GM não tinha dinheiro para atender às reivindicações. Os argumentos para não ceder foram dois: que já havia acordos fechados com outros sindicatos e que um reajuste no lugar de abono poderia gerar inflação.

Diante desse quadro, ficava óbvio que os metalúrgicos da GM sozinhos não poderiam arrebentar com isso tudo. No dia 29, pela manhã, os operários decidiram encerrar a greve, conscientes de que foram traídos pela FEM e pelo sindicato do ABC e também pelo governo Lula e seus ministros.

Como declarou José Maria de Almeida, presidente do PSTU, em resposta ao ministro do Trabalho que disse que o governo interviria se fossem atendidas as reinvindicações: “O governo não interveio quando empresas aumentaram os preços dos remédios, da gasolina, da energia e do gás, mas vai intervir quando o trabalhador conseguir aumento? O governo está na defesa do lucro das empresas e contra o aumento do poder de compra dos trabalhadores”

O QUE PENSAM OS OPERÁRIOS

Reproduzimos alguns depoimentos recolhidos por Jocilene Chagas na porta da fábrica, após o encerramento da greve. Por razões óbvias, não publicamos o nome verdadeiro destes operários.

“A fábrica tem muito dinheiro. Está lucrando muito. Ela prefere ter um prejuízo de R$ 30 milhões do que aumentar nosso salário”
A.S.N, 20 anos de GM

“A nossa luta é mais do que justa. O salário não dá mais pra nada. Tudo aumentou e a gente não pode nem contar com o governo, que até agora não fez
nada para o trabalhador”
B.N.S, 10 anos de GM

“Se a gente não lutar a GM vai tirar nossos direitos. Ela está lucrando muito. Só não atende as reivindicações porque não quer”
R.F.N, 17 anos de GM

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