Caminha dos peões: operários percorrem as obras cantando palavras-de-ordem
Diego Cruz

A greve dos operários da construção civil de Fortaleza, capital cearense, segue forte. No dia 30 de abril, quarta-feira, a paralisação atingia seu nono dia. Os principais canteiros de obras da cidade estão parados.

Apesar da chuva que continuava na manhã dessa quarta-feira, os piquetes foram realizados. Com a ajuda de ônibus, os trabalhadores foram para a frente das obras organizar os peões. A greve que se estende não desmobilizou os operários, que continuam comparecendo nos canteiros para a atividade programada pelo sindicato para o dia. As poucas obras em que as empresas estão obrigando os operários a trabalhar, através de ameaças, são paralisadas pelos piquetes.

A repressão da polícia e das empresas, porém, começa a apertar. Nesse dia 30, um dos piquetes, realizado em frente a uma obra da empresa Diagonal, teve a presença de uma viatura da Ronda. A empresa ameaça os operários de demissão caso façam greve. Os policiais afirmaram que receberam uma “denúncia de populares” de que a obra estaria sendo furtada durante o piquete. “Eles acham que os trabalhadores e os diretores do sindicato são burros, é claro que foi a própria empresa que chamou a polícia”, afirmou um diretor sindical.

No dia 28, segunda-feira, um policial chegou a efetuar disparos para o alto, repetindo gesto de seguranças particulares na semana passada. A peãozada, no entanto, sente que, unida, é mais forte que os patrões e a polícia. Partiram para cima da polícia que foi obrigada a recuar. Os piquetes continuam radicalizados, demonstrando a indignação da categoria contra as propostas rebaixadas das empresas.

A patronal também ameaça endurecer. Duas empresas anunciaram o corte referente a sete dias de trabalho na folha dos funcionários: a Scopa e a C. Rolim. A ameaça no corte dos salários fez com que o sindicato incorporasse a reivindicação de pagamento dos dias parados. A próxima negociação ocorre no próximo dia 2, sexta-feira.

Não é mole não, é greve do peão
Logo que a chuva deu uma trégua, foi substituída por um forte calor. Os operários se concentraram na Praça Portugal e dali saíram em passeata rumo à Praça da Imprensa. A manifestação contou com a presença de cerca de mil operários que, embaixo de um sol escaldante, entoavam palavras-de-ordem como “peão na rua, patrão a culpa é sua” e “1, 2, 3, 4, 5 mil, quem pára Fortaleza é a construção civil!”.

Chegando à Praça da Imprensa, os trabalhadores se concentraram para realizar a assembléia do dia. Uma equipe de TV e outra de um jornal da imprensa comercial presentes no ato foram bastante questionados pelos trabalhadores. Desde o início da greve, a imprensa burguesa da cidade taxa os operários de “vândalos” e “baderneiros”. Num programa de TV, um apresentador chegou a chamar os trabalhadores de “vagabundos”.

Os operários, no entanto, enfrentam a campanha da mídia e seguem em greve. A assembléia reafirmou a continuidade do movimento e a participação dos trabalhadores no 1º de maio de luta nesta quinta-feira, quando a greve atinge seu décimo dia. A concentração da categoria vai ocorrer no próprio sindicato, que servirá um café da manhã aos trabalhadores.