Após um começo avassalador, a greve da construção civil de Fortaleza (CE) se consolida e a maioria absoluta dos canteiros de obras segue parada. Diversas regiões da cidade, do centro à periferia, estão com os canteiros parados.

Passeatas tomam conta da cidade e os peões nas ruas demonstram sua força e disposição para arrancar dos patrões melhores condições de trabalho e aumento salarial. No dia 17 de maio, os operários ocuparam o terminal rodoviário do Papicu e em resposta ao corte do passcard (vale transporte eletrônico) todos foram para suas casas de graça.

No dia 18, uma grande passeata marchou até o Centro de Convenções de Fortaleza, onde era realizado o Feirão de imóveis da Caixa Econômica. Os operários denunciaram a patronal por se negar a negociar e paralisaram o trânsito no local. Em frente ao Centro de Convenções os “peões” fizeram um minuto de silêncio em homenagem aos quatro operários mortos na construção do novo Centro de Eventos.

Apoio e Solidariedade
A greve tem sido marcada por uma crescente solidariedade e apoio da população e dos sindicatos de diversas centrais. É comum, nas passeatas, a população bater palmas e fazer sinal de positivo, demonstrando que a greve conta com apoio do povo.

Sem dúvida, um dos apoios mais marcante partiu do Capitão Wagner, líder da greve dos policiais do início do ano e presidente da APROSPEC (associação dos policiais), que divulgou vídeo apoiando a luta dos trabalhadores da construção civil e pediu aos policiais militares para que não cometam nenhuma agressão e não entrem em confronto com trabalhadores. “Tivemos o apoio irrestrito do sindicato dos operários da construção civil e da mesma forma a APROSPEC quer apoiá-los”, afirmou o capitão em vídeo que está no site do sindicato.

A greve agora entra na sua terceira semana e precisa de todo apoio e solidariedade de sindicatos, oposições e movimentos populares de todo o país.

Crescem os lucros e aumenta a exploração
A cadeia produtiva da construção brasileira representa 12,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Desses, 5,3% são oriundos da construção de edificações. Segundo o IBGE, o setor das edificações emprega sete milhões de pessoas, ou seja, um em cada dez trabalhadores no Brasil estão na construção civil.

Em 2010 e 2011, o PIB da construção cresceu mais do que o próprio PIB do Brasil. No Ceará não foi diferente e o crescimento do setor foi um dos maiores do país. Enquanto o Brasil, em 2010, teve um crescimento de 7,5%, o setor nacionalmente cresceu 11,6%, e no Ceará o índice foi de 15,6%. Veja no gráfico que, mesmo o país desacelerando em 2011, a construção civil continua em alta, comparada com o PIB nacional.

Crescimento é fruto da superexploração
O crescimento do setor é explicado pelo aumento da exploração nos canteiros de obras. Baixos salários, terceirização e precarização são os segredos para o crescimento da indústria da construção. Para termos uma ideia, entre 2003 e 2010, a criação de riqueza avançou em média 6,1%, enquanto o emprego avançou 3,8% e a renda cresceu apenas 1,7%. Segundo o IBGE, em 2010, dos quase sete milhões de trabalhadores, 4,2% eram informais, ou seja, sem direitos.

É comum ouvirmos nos jornais que o trabalhador da construção civil está valorizado e ganhando bem. Mas, em geral, os salários registrados na carteira continuam bem rebaixados em todo Brasil. Os patrões se utilizam de metas para complementar, sem registro, o salário dos profissionais.

Fortaleza tem o sexto metro quadrado mais caro do Brasil. No Meireles, bairro nobre da capital cearense, o metro quadrado chega a custar mais de R$ 4,7 mil (FIPE). Esse alto valor contrasta com o salário do servente que, hoje, é o pior do Brasil.

Greve em Fortaleza é parte do ascenso nacional
Os operários da construção civil protagonizam um verdadeiro ascenso de lutas no país. Sejam nas obras do PAC ou da Copa do Mundo, seja no setor de edificações, nos últimos dois anos acompanhamos grandes lutas no setor.

Nas obras do PAC e da Copa os “peões” se enfrentaram com as construtoras e com o governo. Como se não bastassem esses inimigos, os trabalhadores também enfrentaram os sindicatos dirigidos pela burocracia. Em Fortaleza, a disposição de luta da classe operária se encontra com uma direção classista, que aposta na mobilização e na independência de classe.

Mulheres da construção civil: salário igual para trabalho igual, já!
As mulheres hoje representam 46% dos trabalhadores do Brasil. A maioria delas recebe baixos salários e mesmo executando as mesmas tarefas que os homens, continua recebendo menos que eles.

É o caso do trabalho das mulheres na construção civil. A maioria das trabalhadoras do setor executa tarefas de meio profissional (emassamamento) e recebem como servente. Além disso, muitas não recebem produção, são obrigadas a fazer horas extras sem receber por elas. As condições nos canteiros de obra para as mulheres também não são boas: faltam banheiros e vestiários exclusivos para elas, além de, na maioria das vezes, trabalharem trancadas dentro dos apartamentos.

É preciso libertar as operárias destas condições e para isso é preciso unidade entre homens e mulheres em greve para derrotar os patrões. Os trabalhadores da construção devem apoiar essa luta. Não podemos deixar os patrões nos dividir, somos uma só classe.
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