Passeata dos bancários em São Paulo, na sexta, 24 de setembro
Diego Cruz

Quando escrevemos esta matéria, a greve nacional bancária completa 12 dias e vive um momento decisivo. Mesmo com o cansaço acumulado, a vanguarda piqueteira do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica Federal (CEF) está superando uma barreira difícil: a greve se mantém e vai se aproximando das eleições.

O governo Lula e os banqueiros apostam no cansaço para derrotar a mobilização e não podem permitir que a greve chegue até o fim de semana, o que poderia desestabilizar o indefinido quadro eleitoral.

A greve tem a simpatia da população e está dando um exemplo para outros setores. Ela tem um significado histórico por várias razões. Há uma década os bancários não realizavam uma greve nacional unificada. Um dos batalhões pesados dos trabalhadores brasileiro, com grandes greves na década de 1980, os bancários sofreram pesados ataques nos anos 1990 e amargaram um grande refluxo. Os banqueiros demitiram metade da categoria em nível nacional, e impuseram perdas salariais nos últimos 10 anos que variam de 36,49% nos bancos privados a 74,82% no BB e 85,58% na CEF. Neste mesmo período os banqueiros viram seus lucros crescerem em 1.000%.

Esse quadro de refluxo e de sucessivas perdas foi facilitado pela direção cutista-petista, que passou a praticar um sindicalismo de conciliação com os banqueiros em todos esses anos, o que se agravou com a eleição de Lula.

Rebelião de base contra direção impõe a greve

A greve se impôs e passou por cima dos sindicatos e da Confederação Nacional dos Bancários (CNB) – CUT que defenderam a proposta rebaixada com a Fenaban (Federação dos Nacional dos Bancos), de 8,5% de reajuste. Rebelião dessa magnitude só havia ocorrido em 1985, quando os bancários passaram por cima da velha pelegada.

Em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília, assembléias massivas no dia 14 passaram por cima dos sindicatos e da CUT, e votaram não apenas a rejeição da proposta, mas a deflagração imediata da greve. Alguns sindicatos, como o do Rio de Janeiro, já tinham desistido de “bancar” a proposta da Fenaban/CNB-CUT, mas defendiam o início da greve para o dia 21. Foram atropelados.

Em São Paulo, coração da Articulação Bancária, a diretoria do Sindicato foi recebida com vaias e com gritos de protestos “eu, eu, eu, o sindicato se vendeu” e “pelegos!”. No final, deram as costas para a mesa e a diretoria, quando essa defendeu a aceitação da proposta e a não greve. A votação pela greve foi de mais de 90%.

O bancário, a greve e a política

Os bancários – especialmente dos bancos públicos – entenderam que seus sindicatos têm de ser retirados das mãos dos governistas da CUT e do PT, especialmente onde eles se chocaram com o movimento como em São Paulo.

A direção do Sindicato de São Paulo, a Fenaban e, por fim, o ministro Berzoini, disseram em diferentes momentos que “a greve era do PSTU”, e que tinha motivações eleitorais. Na verdade, eles queriam que os banqueiros seguissem tendo o apoio da mídia, com o silêncio cúmplice dos outros partidos em campanha.

Mas isso não surtiu o efeito desejado por eles. A base viu que, na linha de frente dos piquetes, junto com a vanguarda do BB e da CEF, estava o PSTU e a Oposição Bancária, ligada à Conlutas.

A desconfiança das massas nas direções da CUT impôs, através das assembléias e comandos de São Paulo e do Rio, representantes de base para acompanhar a negociações. No Rio, a assembléia foi duríssima. A diretoria cercou a mesa de segurança e não queria deixar votar. Em São Paulo, na assembléia em que a Oposição queria fazer tal proposta, a mesa, também cercada, impediu que os integrantes da Oposição falassem e tentou encerrar a assembléia, desligando o som e se retirando do local. Mas a assembléia massiva seguiu instalada, esperando a fala da Oposição. Até que Dirceu Travesso falou, com a assembléia repetindo suas palavras para que todos pudessem ouvi-lo. No dia seguinte, a direção recuou e aceitou integrar Dirceu nas negociações.

A vanguarda que surge em bancários mescla antigos lutadores, com uma nova geração cheia de gás, embora às vezes inexperiente. A Oposição Bancária nos principais centros é uma referência de massas. O grande desafio é construí-la nesta greve com todos os novos ativistas, preparando futuros e ainda mais importantes enfrentamentos.

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