Movimento enfrenta intransigência do governo e da estatalNo fechamento desta edição, a greve dos trabalhadores nos Correios já contava com a adesão de 70% da categoria. A greve, que já começou forte no dia 14 de setembro, conta com a adesão de 80% dos funcionários em São Paulo, 95% em Brasília e 70% no Rio de Janeiro. Dos 33 sindicatos de funcionários do país, 29 aderiram à greve.
Os trabalhadores amargam uma perda salarial de 62% e o piso é de R$ 448,28, o menor das estatais. No mesmo período em que a categoria acumulou essas perdas, o lucro líquido da empresa foi superior a R$ 4 bilhões. A participação nos lucros e resultados deste ano foi de R$ 140. Em compensação, o rombo apurado em 252 contratos nos anos de 2003 e 2004 é de R$ 7 bilhões, o que daria mais de R$ 65 mil reais para cada um dos 108 mil trabalhadores dos Correios.

Intransigência
No entanto, a direção dos Correios nega-se a negociar, tomando atitudes com o objetivo de derrotar a greve. Primeiro, a empresa resolveu contratar 2 mil funcionários temporários para substituir os grevistas. Depois, entrou com um pedido de dissídio no TST (Tribunal Superior do Trabalho), para tentar tornar a greve ilegal. Até a polícia está sendo chamada para reprimir os grevistas.

Sobre a contratação dos substitutos, a ação da empresa é um claro desrespeito ao direito de greve. A lei proíbe a “rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos”. Já sobre o pedido de dissídio, a própria lei diz que a ilegalidade da greve só pode ser decretada se houver ausência de serviços essenciais. Decisões judiciais anteriores determinaram que o serviço postal não tem caráter essencial.

A base decide
O ministro do TST Vantuil Abdala apresentou uma proposta rebaixada aos trabalhadores, insistindo que os funcionários votassem mesmo que a empresa se negue a cumpri-la. A proposta de Abdala é de 8,5% de reajuste retroativo a agosto mais 3,6% a partir de 2006, o que garantiria apenas 0,46% de aumento real, além de um abono de R$ 800.

Assembléias realizadas no dia 19 rejeitaram a proposta do ministro. Além disso, também foi aprovada em vários estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco, uma contra-proposta de 25%, além da determinação de que toda contra-proposta do Comando Nacional de Greve estatal deva ser aprovada antes pelas assembléias de base.

Ezequiel Filho, trabalhador dos Correios em São Paulo e militante do PSTU, explica que “o comando está apresentando propostas à empresa. Levaram uma contraproposta de 12%. O problema é que nada estava passando pelas assembléias”.
Apesar da repressão, a greve se fortalece e a mobilização escapa das mãos das direções governistas. Assembléias diárias serão realizadas para avaliar os rumos da greve e as negociações com a empresa.

Post author Yara Fernandes, da redação
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