Os propagandistas da burguesia e do governo diziam que a crise econômica tinha terminado. A Grécia recolocou esse tema em seu devido lugar.
Recordemos que a crise, que iniciou em 2007, atingiu seu auge em 2008, colocando o mundo à beira de uma depressão como a de 1929. Os governos imperialistas reagiram com uma injeção recorde na economia de 24 trilhões de dólares, que freou momentamente essa evolução.

Conseguiu-se uma recuperação conjuntural, que não resolveu a superprodução ainda presente, nem terminou com a montanha de capital fictício especulativo nas mãos das grandes empresas. As contradições se agravaram.
As perdas monumentais das grandes empresas foram transferidas para os cofres públicos. O déficit e a dívida dos países deram saltos gigantescos. Nos EUA, o déficit chegou a 11% do PIB e a dívida a quase 15 trilhões de dólares. Ao final de 2009, o déficit dos países europeus alcançou 6,8% e a dívida pública, 76,3% do PIB. Fala-se muito do déficit grego (na casa dos 13%), mas o da Inglaterra é semelhante (11,5%), assim como o espanhol (11,2%).

Ao mesmo tempo, a recuperação na produção tem muitas desigualdades. A Europa como um todo ainda está praticamente estagnada, com boa parte dos países com crescimento perto de zero ou ainda em retrocesso (como Alemanha, Espanha e Grécia). Já os EUA apresentam um crescimento mais forte, com 3,2% no primeiro trimestre deste ano.
Nesse quadro, a instabilidade global foi crescendo, até que se apresentou um novo momento símbolo, semelhante ao que foi a falência do banco Lehman Brothers em 2008. A Grécia é a expressão do elo mais frágil da cadeia capitalista, e demonstra que a crise global está retomando com força.

Não se trata só da crise financeira – que por si mesma é bastante grave – mas do conjunto do capital, com o centro na produção. A Grécia foi atacada pelas empresas dos países imperialistas dominantes da Europa dentro da armadilha da União Europeia. Agora apresenta uma decadência econômica, com queda prevista de 3% em 2010. A moratória grega é praticamente inevitável, e podemos estar no início de uma série de quebras de países. Mas não de países latino-americanos, como ocorreu com a Argentina em 2001, mas europeus.

A moratória grega pode irradiar a crise para o conjunto da Europa, ao fazer balançar os bancos alemães e franceses, detentores de mais da metade dos títulos gregos. Portugal e Espanha poderiam rapidamente seguir a crise grega, tendo déficits semelhantes.

Foi isso que motivou o conjunto do imperialismo a reagir com um novo pacote europeu, injetando quase um trilhão de dólares (750 bilhões de euros) para salvar mais uma vez os grandes bancos. A gravidade do momento levou a uma ação coordenada dos EUA junto com a Europa. O alívio foi sentido em todos os países imperialistas com uma nova alta das bolsas.

Mas se trata de mais do mesmo. É como se uma pessoa afundada no cheque especial conseguisse um alívio temporário através de um novo empréstimo. Os déficits e as dívidas públicas vão crescer ainda mais.

A instabilidade voltou ao conjunto da Europa. E agora com um componente claramente distinto dos de 2008 e 2009. A resposta dos trabalhadores europeus está sendo muito superior agora. Por isso a Grécia é o símbolo deste novo momento. Não só pela brutal crise econômica deste país, mas também pela resposta dos trabalhadores.

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