População rejeitou política de cortes, que levou o país ao caos social

Os resultados das eleições na Grécia mostram o imenso repúdio da população contra os partidos que implementaram os planos de austeridade no país. Foram punidos os dois principais partidos, de direita (Nova Democracia) e a social-democracia (Partido Socialista), que sustentaram os governos que jogaram a Grécia em um abismo econômico e social.

A social-democracia (Pasok) amargou um dos piores resultados de sua história, um quarto lugar, conquistando apenas 41 vagas do parlamento grego. Já a Nova Democracia, apesar de conquistar o primeiro lugar das eleições (o que lhe garantiu mais 50 vagas extras por ser o partido mais votado), ficou longe de obter uma maioria para formar um novo governo.

Por outro lado, houve um crescimento de todas as outras forças que, de algum modo, eram opostas as políticas da “troika”. Um deles foi da coalizão de esquerda Syriza (frente anticapitalista grega) que obteve o segundo lugar nas eleições. A extrema-direita também apresentou um crescimento preocupante. O partido “Amanhecer Dourado”, com características claramente neonazistas, obteve 6,9% dos votos.

O resultado levou o país a uma enorme crise política. Nenhum partido obteve maioria suficiente para formar um novo governo. Diante disso, novas eleições foram convocadas para 17 junho.

“Plano B”
O mercado financeiro reagiu à instabilidade política na Grécia e a possibilidade de uma saída do país da zona do euro. Um setor da burguesia já fala abertamente em uma “saída ordenada” do país da UE. Uma possibilidade que foi exposta pelo próprio ministro das Finanças de Alemanha, Wolfgang Schäuble. Mas isso significaria uma saída que possa evitar a solvência dos bancos – sobretudo, da Alemanha e França – e impedir uma “contaminação” de toda a União Europeia. Ou seja, um acordo que permitisse ao capital financeiro espremer a Grécia até arrancar suas últimas gotas de riqueza.

Esquerda anticapitalista
pode vencer eleições

O repúdio aos partidos da troika e aos planos de ajustes coloca, pela primeira vez em toda Europa, a possibilidade de vitória eleitoral de um partido anticapitalista. As pesquisas mostram a possibilidade de vitória do Syriza nas eleições de junho. Pesquisas dão à frente entre 20% e 27% das intenções. Na região metropolitana de Atenas, o Syrisa tem 30% das intenções dos votos.

Logo depois que a Nova Democracia se viu impossibilitada de formar uma maioria no parlamento, coube ao líder do Syrisa, Alexis Tsipras tentar compor um novo governo. Recusando-se a compor com uma maioria da social-democracia, Tsipras chamou um governo unitário das esquerdas (basicamente Syriza, Partido Comunista e outros partidos de esquerda).

Em seu comunicado, o Syrisa chamava a composição do novo governo com base em cinco eixos: 1) cancelamento de todos os memorandos e leis impostas pelas troika; 2) cancelamento das leis que acabam com os direitos trabalhistas; 3) reformas na legislação eleitoral estabelecendo a proporcionalidade plena; 4) controle público sobre o sistema financeiro; e 5) Auditoria Pública para a dívida pública e moratória do seu pagamento.

Diante da clara possibilidade do Syrisa vencer as próximas eleições, consideramos necessário debater alguns pontos deste programa.

Romper com o UE e suspender
o pagamento da dívida

Apesar de conter medidas extremamente importantes, opinamos que há duas claras limitações no programa apresentado pelo Syrisa. Não há nenhuma menção sobre a necessidade da ruptura da Grécia com a UE e sua saída da Zona do Euro, nem mesmo uma clara perspectiva de suspensão do pagamento da dívida ilegítima criada para salvar os barões do sistema financeiro.

Sem estas duas medidas, não há nenhuma possibilidade de construir um governo dos trabalhadores. Isso porque a União Européia é um bloco econômico neoliberal e todas suas instituições ameaçam os trabalhadores, pois estão a serviço do capital financeiro na Europa.

O avanço no desmonte das conquistas sociais nos últimos anos é o maior indício da função do bloco. Assim como é também os “planos de austeridade”, aplicados em todos os países do bloco graças às instituições da UE. Também é impossível a manutenção do Euro como moeda da Grécia. O Euro é totalmente controlado pelo Banco Central Europeu (em última instância pela Alemanha), e serve como um instrumento dos países centrais para amarrar as mãos de países periféricos do bloco nas suas decisões monetárias e econômicas em geral.

A ruptura com o bloco e o fim do pagamento da dívida são, portanto, condições necessárias para construção de um governo dos trabalhadores. Tais medidas devem ser acompanhadas pela nacionalização do sistema financeiro para colocar os mais de 160 bilhões de euros destinados aos banqueiros e reverter os cortes nos direitos, salários e aposentadorias. Aliás, esse é única medida que poderá salvaguardar as pequenas economias da população depositada nos bancos, ameaçadas pelos grandes bancos. Também é preciso reverter as privatizações, nacionalizar as grandes empresas e colocá-las sob o controle dos trabalhadores.

Contra a UE é preciso propor outra unidade europeia, sob a base anticapitalista, socialista e de classe, o que não tem nada a ver com o atual bloco neoliberal que só oferece miséria para os povos. Um governo dos trabalhadores e do povo deve levar essas medidas a cabo, apoiado nas organizações que sustentam a mobilização dos trabalhadores e da juventude.