Os recentes acontecimentos ocorridos na Grécia mostram o que pode acontecer em toda a União Europeia (UE), como consequência da crise econômica internacional. Inicialmente, o epicentro da crise esteve localizado nos Estados Unidos, mas a UE foi o pólo impA União Europeia nasceu através de diferentes tratados internacionais na década de 1990. Atualmente, é formada por 27 países, como continuação da Comunidade Econômica Europeia (CEE), fundada em 1957. Em seu interior criou-se, em 2000, a chamada “zona do euro”: 17 países que adotaram o euro como moeda comum, controlada pelo Banco Central Europeu (BCE).

Longe de ser uma “união igualitária de países”, que permitiria “o progresso e o bem-estar de seus povos”, a UE nasceu com dois objetivos muito claros. O primeiro era defender um “espaço imperialista próprio”, para fazer frente aos EUA. O segundo era somar as forças destas burguesias imperialistas para atacar e começar a liquidar as conquistas sociais do chamado “Estado do bem-estar social”, conseguidas pelos trabalhadores europeus, depois da II Guerra Mundial. Naquela ocasião, os capitalistas viram-se forçados a fazer grandes concessões, diante o risco do avanço da revolução socialista.

Uma união de desiguais
Na UE e na zona do euro juntaram-se países com desenvolvimento econômico e produtivo muito desiguais (por exemplo, Alemanha e Grécia). Seus grandes beneficiários foram as principais potências (Alemanha e França), especialmente suas grandes empresas e bancos, que puderam expandir, sem grandes limitações, seus negócios e investimentos.

Os países mais débeis, como Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, sofreram um forte processo de desindustrialização (com o desaparecimento ou com a redução extrema de setores como a siderurgia ou o naval); redução dos setores agrícolas “não competitivos” (que agora deveriam competir com os agricultores da Alemanha e França, que recebem enormes subsídios dos seus governos), além da penetração e domínio crescentes de seus mercados bancários e financeiros.

Durante o último período de auge da economia mundial (2002-2007), este processo foi dissimulado pelos rendimentos que os países mais débeis recebiam através do turismo, comércio e o transporte, e com o desenvolvimento da construção. O circuito econômico acumulava contradições, mas ainda “fechava”. A economia espanhola, ajudada pelo rendimento de seus investimentos na América Latina, viveu um período de auge. Mas a crise cortou esse circuito, em grande parte fictício, e as contradições explodiram.
Esta relação de domínio dos países imperialistas mais fortes sobre os mais débeis não é algo novo na história. Em seu conhecido livro sobre o imperialismo, Lênin já assinalava, por exemplo, que Portugal era ao mesmo tempo uma potência colonial e um país totalmente dependente da Inglaterra. A criação da UE e da zona do euro aprofundaram este tipo de relações e, com a crise, estão levando-as a novos limites.

A crise das dívidas públicas
A crise econômica internacional afetou a economia europeia de conjunto e diminuiu os rendimentos em euros dos países mais débeis. Os estados começaram a se endividar por meio dos recursos dos bancos e para enfrentar o pagamento das dívidas públicas que aumentavam aceleradamente em cada refinanciamento. O custo deste refinanciamento era cada vez mais alto, pois as agências de análise de risco qualificavam as dívidas de forma cada vez pior. Mas o endividamento perdeu o controle quando os governos despejaram bilhões para salvar os bancos a beira da falência.

Chegou-se assim às situações de “default”: isto é, de impossibilidade dos Estados nacionais enfrentarem suas dívidas. Com isso, surgiram os chamados “pacotes de ajuda”, por parte da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI), para cobrir o “saldo negativo” e impedir a quebra.

A “ajuda”, porém, é acompanhada de duríssimas exigências e planos de ajuste que reduzem salários e as pensões das aposentadorias, aumento dos impostos à população, ataques à saúde e à educação pública, privatizações etc. Em resposta começou uma luta dos povos contra essas medidas, aumentando ainda mais a “instabilidade” para a burguesia.

A segunda crise do euro
A crise grega e sua evolução não são processos que afetem apenas esse país. Nem sequer é uma crise que se limite ao que pejorativamente a mídia inglesa chama de PIGS (leia o box na outra página). A revista britânica “The Economist”, analisando a crise grega, define uma “segunda onda de crise do euro”, desde 2008, porque este país é a parte mais visível de uma crise continental. Ou seja, na Grécia, está se decidindo a sorte do sistema euro que levou mais de 50 anos para ser construído pela burguesia imperialista europeia.
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