A revelação de que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, teve ligações telefônicas grampeadas abriu uma verdadeira crise no governo federal.

O caso gerou uma crise entre os poderes Judiciário e Executivo. Lula tratou logo de afastar temporariamente toda a diretoria da Abin. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Jorge Félix, que comanda a Abin, chegou a colocar seu cargo a disposição.

Junto com o escândalo, abriu-se também uma discussão sobre os eventuais interessados na arapongagem contra Gilmar Mendes. Cogita-se a possibilidade de o funcionário responsável pelo grampo ser contratado pelo banqueiro Daniel Dantas, que tenta se livrar de inúmeras acusações de corrupção. O novo diretor da Abin, Wilson Trezza, que assumiu interinamente, já trabalhou para Dantas.

A grande imprensa e setores da oposição e do próprio governo indignam-se com o perigo da institucionalização de um “Estado policialesco”. A oposição de direita, por sua vez, liderada por DEM e PSDB, aproveita-se do caso para tentar desgastar o governo neste período eleitoral. Mas por que ninguém mais fala nos inúmeros crimes que levaram o banqueiro para trás das grades?

Se a indignação é recente, a prática do grampo, da espionagem e da arapongagem já é um recurso antigo. Apesar do novo nome, a Abin nada mais é que o Serviço Nacional de Inteligência (SNI) da ditadura militar. Um órgão a serviço do governo e do Estado que não pensa duas vezes antes de utilizar qualquer método para colher informações contra quem considera um inimigo, inclusive movimentos sociais e populares. Fato que não causa tanta revolta nos grandes meios de comunicação.

Em março, o jornal Folha de S. Paulo revelou o plano do governo de uma minuciosa espionagem dos movimentos sociais. A ação seria coordenada pelo GSI, que tem sob sua responsabilidade direta o comando da Abin.

A ação de espionagem contra os movimentos sociais é confirmada pelo presidente da Associação dos Servidores da Abin, Nery Kluwe de Aguiar Filho. Em entrevista à Folha, Nery, comentou as atribuições da Abin. “Quando reúnem-se três sindicalistas e dois líderes do MST para iniciar uma marcha, o GSI aciona a Abin para acompanhar isso. Somos obrigados até a procurar boi no pasto e a vigiar invasão de estudante em reitoria”, disse o agente.

Se a espionagem contra setores do governo, do Judiciário e da oposição é velada, contra os movimentos sociais ela é institucionalizada.

A invasão à sede nacional do PSTU no final de dezembro de 2007 teve claras evidências de uma operação de inteligência. Enquanto documentos e computadores usados foram levados, cheques, celulares novos na caixa e uma impressora foram deixados. As linhas telefônicas foram devidamente cortadas antes da invasão para desarmar o sistema de segurança, o que mostra que ação foi conduzida por profissionais.

Movimentos sociais e partidos de esquerda já são vítimas há muito tempo da espionagem de Estado. Por isso, todos devem exigir do governo a dissolução imediata da Abin e o fim de qualquer tipo de repressão contra os movimentos sociais.

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