A crise econômica também provoca efeitos retrógrados entre os trabalhadores. Na semana passada, milhares de operários de obras de construção e refinarias da Grã-bretanha iniciaram uma greve cujo slogan estava carregado de xenofobia: “UK jobs for British Workers” (empregos britânicos para trabalhadores britânicos).

O movimento começou na refinaria da Total Oil de Lindsey, na quarta-feira, dia 28, quando a empresa anunciou a contratação de trabalhadores italianos e portugueses para um novo projeto. No último dia 2, a greve contra o emprego de mão-de-obra estrangeira se expandiu para centrais elétricas britânicas.

O impacto da crise é enorme no país. O desemprego é o maior desde 1991 e a projeção é de que pelo menos 3 milhões de pessoas fiquem desempregados até o final do ano. Enquanto isso, o governo britânico mandou 50 bilhões de libras provenientes do Estado em socorro aos banqueiros. Já os trabalhadores são enviados para engrossar a fila do desemprego.

A campanha xenófoba apenas oculta os verdadeiros responsáveis pela crise: os capitalistas e seus governos. A burguesia agradece o slogan reacionário dos grevistas que só ajuda os patrões, livrando-os de sua responsabilidade. Enquanto estão divididos os trabalhadores são empresários que ganham. A Total Oil, por exemplo, ganhou 5 bilhões de libras (R$ 18 bilhões) nos últimos três meses.

Além disso, a campanha divide os trabalhadores do país justamente no momento em que há a necessidade de uma grande unidade para lutar em defesa dos salários. Novamente, a burguesia agradece.

Mas a burguesia dos países imperialistas estimula o racismo não só para dividir os trabalhadores. Há, no mínimo, mais duas outras necessidades para se explorar os imigrantes. Por um lado, as economias imperialistas precisam da imigração para assegurar o funcionamento de suas empresas. De outro, os capitalistas necessitam que essa mão-de-obra continue barata e dispensável. Por isso não aceitam uma verdadeira integração, exatamente para que os imigrantes não tenham os mesmos direitos dos trabalhadores nascidos na Europa. Na Grã-bretanha, por exemplo, os trabalhadores do país sequer dividem nem mesmo os alojamentos com os estrangeiros.

O próprio governo britânico estimula a xenofobia. O lema dos grevistas tem como origem um discurso do atual primeiro ministro, Gordon Brown, proferido na conferência do Partido Trabalhista de 2007.

A maior crise do capitalismo desde 1929 não é culpa de operários estrangeiros e imigrantes como tenta fazer crer a extrema direita e os governantes. A idéia de que são os estrangeiros, imigrantes, negros ou asiáticos os responsáveis pela crise representará um desastre para toda a classe operária. Vai inevitavelmente fortalecer todos os racistas e fascistas, e ajudará aos empresários a realizar reduções salariais e continuar com as demissões. Por isso quem também está aplaudindo a campanha é o ultrarreacionário Partido Nacional Britânico (BNP na sigla em inglês), que já difundiu uma ampla propaganda racista em apoio às greves.

Por outro lado, a greve ocorre sob uma grande inoperância dos sindicatos, que até agora não chamou os trabalhadores a reagir contra as demissões. A lentidão e leniência estão nutrindo a campanha xenófoba.

Os verdadeiros inimigos devem ser apontados. “Que os ricos paguem pela crise”, é o slogam que os trabalhadores devem adotar. Os imigrantes são componentes de peso do proletariado europeu, pauperizado e precarizado pela globalização. Por isso, os trabalhadores estrangeiros devem entrar nos sindicatos para marchar junto com os trabalhadores britânicos contra os patrões e o capitalismo.