Redação
Governadores e prefeitos se aliam a Bolsonaro no genocídio e aceleram reabertura.

 

Em todo o país, governadores e prefeitos aceleram a reabertura indiscriminada da economia. As imagens dos bares lotados no Leblon, área nobre do Rio, no último dia 3 de julho, viralizaram nas redes sociais e ilustram o momento que vivemos: se antes Bolsonaro polarizava com os governadores no discurso em relação à COVID-19, agora estão todos juntos para impor o fim de qualquer medida de distanciamento social.

Até mesmo os números dos mortos pela pandemia vão perdendo destaque na imprensa. Além de normalizarem as mais de mil mortes notificadas todos os dias no país, os governos pintam um cenário enganoso de que a doença estaria perdendo força e que, portanto, tudo deveria voltar ao normal. Mas não está. No dia em que o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, mandou reabrir os bares, a cidade contava com 59 mil casos confirmados e quase 7 mil mortes, com taxa de ocupação de UTIs na casa dos 70%.

No momento em que fechávamos esta edição, a capital paulista, que já está com bares, restaurantes e comércio abertos, liberava também setores como academias de ginásticas. No UOL, um dos maiores portais de notícias, uma manchete declarava: “SP tem queda no número de mortes pela terceira semana consecutiva”. O tamanho dessa “queda”: na semana anterior, foram notificadas 1.706 mortes. Nesta semana, 27 a menos.

Se há um platô na capital (pelo menos em relação às notificações oficiais) com 6% de redução nas mortes, no interior houve um aumento de 12%, com o colapso do sistema público em regiões como Campinas, Sorocaba e Ribeirão Preto. É o processo de interiorização que dá a tônica da atual fase da pandemia no país. De forma invariável, a abertura é seguida do aumento de casos e mortes. É a consequência inescapável observada em qualquer lugar do mundo, da Flórida (EUA) ao Vale do Paraíba (SP).

A reabertura que os governadores e prefeitos impõem vai contra as determinações da OMS para a retomada: redução sustentada do número de casos e mortes, seguida pela diminuição da ocupação de leitos hospitalares. Algo que não ocorre em nenhum lugar do Brasil.

Ignorando os alertas e as recomendações das autoridades de saúde, governadores e prefeitos, após terem realizado uma quarentena absolutamente insuficiente, cerram fileiras de forma definitiva com o negacionismo de Bolsonaro e sua política genocida e mandam o povo para o matadouro.

 

QUADRO DA TRAGÉDIA

Mortes aumentam com a reabertura

Registros de mortes na segunda-feira, dia 13 de julho, em relação ao mesmo dia da semana anterior. Foi a pior segunda-feira desde maio. Brasil totalizava 72.921 mortes notificadas.

 

CASO PENSADO

Sem testagem em massa, Brasil patina no escuro

Uma das pré-condições para uma reabertura progressiva da economia na pandemia é a aplicação de testes para COVID-19 de forma massiva. A partir daí, seria possível se ter um quadro minimamente definido sobre a crise e o real número de contaminados, e programar a volta após a redução sustentável dos casos. Também seria possível isolar os doentes e rastrear as pessoas que tiveram contato com eles, medida básica adotada por países que tiveram mais eficiência no combate à pandemia, como Coreia do Sul.

Mas, no Brasil de Bolsonaro, abre-se tudo sem nem ao menos testar. Se os números subnotificados já apontam que não há redução nos casos, a ausência de testes em massa deixa o país no escuro. O governo havia prometido a realização de 24 milhões de testes PCR (mais confiáveis) e outros 22 milhões de testes rápidos (com alta margem de erro e que, segundo muitos especialistas, não servem para nada). Até o momento, o governo havia distribuído 4,4 milhões de kits de testes, mas só 1,2 milhão havia sido realizado. Isso porque o governo federal distribuiu os kits sem o principal reagente para a detecção da COVID-19.

Para se ter uma ideia, embora seja o segundo país no ranking mundial de mortos e contaminados, o Brasil é um dos países que menos testam. Com 21,5 testes por milhão de pessoas, o país está atrás da Palestina (24 por milhão) e do Botswana (21,8).

Longe de ser uma situação provocada pela falta de insumos, como quer fazer parecer o governo, a ausência de testes serve para que não se tenha ideia do tamanho da pandemia. Muito provavelmente, os mil e poucos mortos notificados ao dia só estacionaram neste patamar (já absurdo), pela simples falta de testes. Não é do interesse de Bolsonaro, que já tenta censurar as poucas informações que temos hoje, uma maior notificação dos casos.

É por isso que, junto com emprego, salário e renda para garantir a vida, temos de exigir a testagem em massa na população.

 

PELA VIDA E POR EMPREGO E RENDA

Fora Bolsonaro e Mourão!

No dia 7 de julho, Bolsonaro surpreendeu ao anunciar que testara positivo para a COVID-19. Acostumados com um governo que se elegeu e se sustenta com base em fake news, a notícia foi recebida com uma justificável desconfiança. Ainda mais ao ser anunciada momentos depois da prisão do miliciano Fabrício Queiroz e em meio à estratégia de suavização no discurso bolsonarista, encurralado por várias denúncias.

O que se pode ter certeza é que, contaminado ou não, Bolsonaro não vai recuar de sua política genocida de jogar o povo para a morte para atender seus objetivos de poder (eleitorais ou não) e os interesses dos grandes empresários e banqueiros. Um dia depois do anúncio, Bolsonaro vetou a lei aprovada pelo Congresso Nacional para assegurar produtos de higiene, leitos de UTI e até mesmo água potável a populações indígenas e quilombolas, deixando ao léu os 305 povos indígenas e as 5 mil comunidades quilombolas existentes no Brasil. Ele já havia vetado a obrigatoriedade de máscaras em comércios e templos.

Para não dizer que o governo não deu nada aos indígenas, no início de julho uma missão interministerial comandada pelo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, despejou 66 mil comprimidos de cloroquina entre nove etnias das Terras Indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol, em Roraima. O próprio Bolsonaro fez questão de se exibir tomando o medicamento, mas ele tem garantido dois exames cardíacos por dia em sua estrutura pessoal no conforto do Planalto. Já os indígenas, nem água.

Bolsonaro não vai mudar

Setores majoritários da burguesia, da oposição parlamentar, do Judiciário e da imprensa apostam num “enquadramento” para segurar Bolsonaro, para que possa seguir na política de passar a boiada nos direitos levada a cabo por Paulo Guedes. Usam o caso Queiroz e o desgaste da pandemia para forçar o recuo de Bolsonaro às instituições e suas ameaças pró-ditadura, e assegurar alguma estabilidade nesta crise.

Bolsonaro, porém, se está obrigado a ficar quieto no momento, espera só a hora que possa retomar sua ofensiva às liberdades democráticas. Enquanto isso, continua desfiando seu discurso negacionista, incentivando o povo a ir para a rua após ter desfilado por aí e contaminado inúmeras pessoas.

Isso mostra que a classe trabalhadora não pode depositar a tarefa de parar Bolsonaro no Congresso Nacional nem no STF. Esse genocida e a sua família de milicianos só serão contidos com a mobilização dos trabalhadores, junto ao povo pobre e aos setores oprimidos.

 

RACISMO

COVID-19 tem cor e raça

Registros de mortes divulgados pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) no dia 13 de julho, com base nos cartórios, mostra que o número de mortes por causas naturais entre os negros foi de 31% entre 16 de março e 30 de junho. Entre os autodeclarados pardos, cresceu 31,4%, enquanto entre os brancos foi de 9,3%.

Já as mortes por doenças respiratórias aumentaram 70,2% entre os negros, 72,8% entre pardos e 24,5% entre brancos. Se pegarmos as mortes atestadas por COVID-19, os números se invertem: 44,4% brancos, 38,4% de pardos e 8,2% negros. Isso reforça o fato de que a população negra é a mais atingida pela pandemia e a que mais morre. Apesar disso, continua invisibilizada pela subnotificação.

 

PROGRAMA

Quarentena geral já, com garantia de renda e emprego

Bolsonaro e os governos estaduais e municipais querem fazer com que a classe trabalhadora e a população aceitem as mais de mil mortes diárias como fato consumado. Tentam normalizar a barbárie, fazendo parecer que está tudo voltando ao “normal”, enquanto aproveitam a crise para retirar ainda mais direitos.

Os trabalhadores e o povo pobre não podem aceitar esse genocídio calculado. É preciso retomar a luta para arrancar esse governo e para que se garanta uma quarentena de verdade, com condições para as pessoas ficarem em casa, pagamento imediato do auxílio emergencial e seu aumento para, pelo menos, 2,5 salários mínimos, proibição das demissões e auxílio de verdade para as micro e pequenas empresas. Além disso, é necessário realizar a testagem em massa.

O dia 10 de julho foi um importante marco. É preciso agora aumentar a mobilização para criar as condições de se ir rumo a uma greve geral.