Anúncio de pacote coordenado de ajuda ao sistema financeiro provocou euforia nos mercados e turbinou as ações das principais bolsas nessa segunda-feiraApós viver uma semana de pânico, com quedas recordes nas bolsas de todo o planeta, representantes dos principais países se reuniram e aprovaram novas medidas para tentar conter a crise econômica e financeira.

As reuniões de emergência ocorreram após tentativas frustradas de frear as sucessivas quedas nos mercados. No último dia 9, uma ação coordenada entre o Fed (banco central norte-americano) e os países da União Européia resultou num corte simultâneo da taxa de juros. O objetivo era estimular o crédito e os empréstimos entre os bancos. A medida, porém, não surtiu efeito e as bolsas despencaram.

Foram sete dias seguidos de quedas generalizadas. O índice Dow Jones, que mede as ações negociadas na Bolsa de Nova Iorque, chegou a despencar históricos 18,15% na semana, o que alguns classificaram como um “crash” em câmera lenta. Tradicionalmente, considera-se que houve um “crash” após uma queda de 20%, no dia ou em vários dias. Foi a maior queda da história da bolsa. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, chegou a afirmar que o sistema financeiro internacional estava à beira do derretimento.

Os donos do mundo se reúnem
A semana de pânico fez acender a luz vermelha do imperialismo. O centro de gravidade da crise se ampliou para além da economia norte-americana e atingiu a Europa. Os governos viram a necessidade de uma resposta rápida e urgente.

No sábado, dia 4, o Comitê Monetário e Financeiro do FMI, formado pelos países mais importantes do fundo, se reuniu em Washington para definir ações comuns contra a crise. No mesmo dia, o G20, grupo dos vinte países mais ricos, se encontraram para articular medidas em favor do sistema financeiro. Pela primeira vez, o presidente norte-americano George W. Bush participou das reuniões, mostrando a profundidade do problema. Não fizeram mais, porém, que reafirmar a declaração emitida pelo G7 no dia anterior.

Em síntese, as declarações de países e organismos multilaterais, como FMI e Banco Mundial, caminham no mesmo sentido. Colocam a necessidade de os governos disporem de “todos os mecanismos” possíveis para pôr termo à crise que afunda o mundo financeiro a proporções nunca vistas desde 1929.

No dia seguinte, domingo, foi a vez de representantes dos 15 países que compõem a zona do euro se reunirem, desta vez em Paris. Da mesma forma, as ações dos países europeus seguem as medidas adotadas dias antes pelo governo britânico e se resumem a financiamentos e compras de ações de instituições financeiras em dificuldades. Medidas que consumirão algo em torno de impressionantes US$2,5 trilhões. Os bancos centrais europeus prometeram nada menos que “recursos ilimitados” aos bancos.

As principais medidas seguem as ações do governo Bush e, na prática, estatizam boa parte do sistema financeiro. São trilhões desviados dos orçamentos públicos para salvar os bancos em economias que já vivem uma recessão.

O anúncio do pacote coordenado de ajuda ao sistema financeiro provocou uma verdadeira euforia nos mercados e turbinou as ações das principais bolsas nessa segunda-feira, dia 13. A de Nova Iorque teve a maior alta de sua história, com 11%. A Bovespa teve a maior alta desde 1999, com uma valorização de 14%.

Apesar de alívio, crise se aprofunda
As medidas coordenadas entre os governos europeus e o norte-americano conseguiram reverter parte dos estragos da última semana à custa de trilhões e promessas de ajuda ilimitada. As altas registradas nessa segunda, porém, não significam o fim da crise, mas o contrário.

O índice Dow Jones, por exemplo, apesar da valorização recorde, registra queda acumulada de 29% só em 2008. A oscilação cada vez mais brusca nos mercados é apenas mais um sintoma do aprofundamento da crise. A histórica onda de queda ocorreu principalmente pela deterioração dos indicadores da chamada economia real, que permanece. As ações da General Motors, por exemplo, chegou a cair 31% em um de seus piores dias. As da Ford amargaram perdas de 22%.

A GM anunciou também, nesse dia 13, que fechará uma de suas fábricas nos EUA, onde se produzia veículos esportivos de grande porte. A fábrica, no estado de Wisconsin, empregava 1.300 funcionários. O fechamento da fábrica já estava programado para 2010, mas a empresa antecipou sua desativação devido ao agravamento da crise.

O esforço coordenado entre os países para salvar os banqueiros e o sistema financeiro, à custa de cifras astronômicas, demonstram a gravidade da crise. Ela, porém, tende a se aprofundar cada vez mais. Já se prevê, por exemplo, uma desaceleração da economia chinesa, responsável por mais de um terço do crescimento mundial dos últimos anos. EUA e Europa já mergulham numa recessão de futuro imprevisível.

Apesar das promessas de ajuda ilimitada, os recursos despejados pelos bancos centrais ao sistema financeiro são sim limitados. E não será todo dia que se poderá anunciar um pacote de trilhões de dólares.