Representante dos latifundiários, ministro Roberto Rodrigues demite a diretoria da Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaSe os grandes produtores rurais comemoraram, os trabalhadores têm de desconfiar! O ministro da Agricultura de Lula, Roberto Rodrigues, acaba de demitir toda a diretoria da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) colocando no lugar pessoas mais afinadas com os interesses do agronegócio e dos grandes capitalistas do campo. Sinal de que a reforma agrária não vai sair do papel, de que a agricultura familiar, que beneficia milhões de famílias no Brasil, vai continuar abandonada à sua própria sorte e que a soja transgênica e as multinacionais do setor, como a Monsanto, vão continuar mandando na agricultura brasileira. “Isso revela a tendência do governo Lula de renegar explicitamente o fortalecimento da agricultura familiar e o programa de reforma agrária”, na opinião de 44 entidades de camponeses e sem-terra reunidos no Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo.

Pressão das multinacionais

Desde 2001 vem ocorrendo uma grande expansão do plantio de soja, invadindo áreas virgens de floresta ou cerrado, e empurrando outros cultivos para terras menos produtivas e mais distantes dos grandes centros. Além de prejudicar o meio ambiente, a expansão da soja, que visa sobretudo à exportação, vem impedindo o cultivo de alimentos para o mercado interno, feito sobretudo por pequenos agricultores, e reduzindo as áreas de pastagens para o gado, que no norte do país já começam a invadir a floresta Amazônica, trazendo enormes prejuízos para o meio ambiente.

Pressionado pelas multinacionais, de olho nos grandes lucros com a exportação, o governo vem dando enormes incentivos fiscais para o plantio da soja. Em alguns estados, como o Piauí por exemplo, quem decide plantar soja tem 100% de isenção do ICMS. A principal indústria que compra a soja do Piauí, a multinacional Bunge, também se beneficia com a isenção de impostos.

A pressão das multinacionais também vem no sentido de conseguir que o governo libere totalmente o plantio de soja transgênica, o que já vem sendo feito por Lula, contrariando estudos da Embrapa que indicam que os efeitos das alimentos transgênicos na saúde humana ainda não estão claros e requerem estudos mais aprofundados.

A troca de diretoria da Embrapa vai nesse sentido, o de facilitar de vez a invasão da soja transgênica em solo brasileiro. Quanto a favorecer o agronegócio, isso já vinha sendo feito. Segundo o diretor demitido da Embrapa, Clayton Campanhola, a empresa estava investimento menos de 5% de seu orçamento em pesquisas de agricultura familiar. Como empresa pública, a Embrapa deveria aplicar 100% de seus recursos, que advém dos impostos pagos pela população, aos pequenos produtores rurais, que não dispõem do mesmo capital que dispõem as grandes multinacionais, e dependem da ajuda das empresas públicas.

Mesmo aplicando essa miséria na agricultura familiar, que planta sobretudo feijão, milho e mandioca para consumo e não para exportação, a pressão da grande agricultura comercial era grande para que o governo substituísse a diretoria da Embrapa. O que acabou sendo feito agora, pelo ministro Roberto Rodrigues, um dos representantes do agronegócio que Lula levou para o Palácio do Planalto.

Reforma agrária para os dias de festa
Enquanto isso, Lula continua enrolando seus “amigos” do MST. Só fala em reforma agrária nos dias de festa, como a que acaba de promover na Bahia, num acampamento ocupado por 850 famílias que há dois anos esperam pela reforma agrária. Veste bonezinho, limpa o suor com a bandeira vermelha do MST, faz muito marketing pessoal em cima da sua “origem humilde”, mas terra que é bom, nada!

A única coisa que ele tinha a dizer aos sem-terra era que assina todos os dias cerca de dez desapropriações, mas no mesmo dia é obrigado a assinar dez recursos no STF porque os proprietários entram com recursos contra as desapropriações. E Lula faz o que eles querem. Para os proprietários, a terra; para os pequenos agricultores e os sem-terra, os discursos emocionados e as encenações. Esse é política de Lula para o campo, que inclui as recentes mudanças na Embrapa.