O governo chega ao final de 2004 muito mais enfraquecido do que quando ele iniciou. Mesmo tentando se sustentar numa imensa campanha de marketing sobre o crescimento da economia com o objetivo de eleger seus candidatos nas eleições municipais, o PT saiu derrotado.

Para complicar a vida de Lula e de seus ministros, no meio das eleições, explodiram importantes lutas e greves da classe trabalhadora, como a dos bancários, que passou por cima das direções governistas e enfrentou corajosamente os banqueiros e o governo. A greve gerou um enorme desgaste do governo petista na categoria bancária (ver página 9).

Derrotado eleitoralmente, o governo mais frágil e enfraquecido, segue em marcha acelerada à direita. A reforma ministerial em curso é a maior expressão disso. Muitas pessoas que têm inclusive relações pessoais com Lula, como Frei Betto e Ricardo Kotscho, estão deixando o governo, pois têm críticas pontuais à sua política. Carlos Lessa, considerado pela esquerda petista como representante da “ala nacionalista” do governo Lula, foi demitido do BNDES porque mantinha críticas limitadas – não questionava o pagamento da dívida externa e nem o superávit – à política econômica. Sua demissão jogou um balde de água fria em cima das correntes da esquerda do PT que hoje não encontram mais argumentos para dizer que o governo está em disputa.

O objetivo da reforma ministerial é impedir uma crise de governabilidade, mantendo a todo custo a base aliada do governo no Congresso Nacional. Até o fiel aliado, o PCdoB, pode perder cargos na dança das cadeiras ministeriais. Cogita-se em afastar Agnelo Queiroz do Ministério dos Esportes para dar lugar ao PP, partido que abriga vários representantes da máfia da cartolagem do futebol.

Aqueles que achavam que depois da derrota eleitoral o governo poderia ir mais à esquerda têm suas esperanças transformadas em poeira. Quem praticou tais exercícios de auto-engano depara-se com a dura realidade de um governo mais à direita, aliado à burguesia para implementar as reformas.

PSDB e PFL se fortaleceram e com Lula preparam ataques aos trabalhadores

O enfraquecimento do governo petista precipitou a corrida para as eleições presidenciais de 2006. A oposição burguesa (PSDB e PFL) saiu fortalecida das eleições municipais, elegendo seus candidatos nas duas principais capitais (Rio de Janeiro e São Paulo), por isso se sente fortalecida para atacar mais o governo. Eis o que está por trás dos ataques de FHC à Lula na semana passada. No entanto, tanto o ex-presidente como o PSDB e o PFL não possuem a menor autoridade para atacar o governo. Quando estavam no poder foram os principais responsáveis pela quebra do país, pelo endividamento e pela corrupção. É o sujo falando do mal-lavado. A pré-candidatura de César Maia (PFL), prefeito reeleito do Rio de Janeiro, também antecipa os embates de 2006.

Tudo isso indica que a grande burguesia do país está se preparando para retomar o controle direto do poder. Mas, ao mesmo tempo em que prefere que seus partidos tradicionais estejam no poder, ela, cuidadosamente, não irá comprometer a aprovação das reformas neoliberais nem a continuidade da política econômica. Usará o PT como um limão: depois de espremido, joga-o fora, pois prefere os tucanos originais a uma cópia.

A oposição burguesa vai continuar fazendo marola, no entanto, votará a favor de todas as reformas neoliberais encaminhadas por Lula.
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