Apesar de generosas promessas, o governo Lula não está conseguindo evitar a instalação da CPI no Congresso. Crise expõe fisiologismo sem limites de Lula e a hipocrisia da oposição de direita.O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, teve uma quinta-feira de bastante trabalho, um dia após ser protocolado o pedido de uma CPI para investigar a corrupção nos Correios. Em meio a disputa com Aldo Rebelo (PCdoB) para ver quem cuida da articulação política do governo, Dirceu arregaçou as mangas e fez de tudo para mostrar serviço. O ministro comandou o esquema de guerra do governo para comprar deputados da base aliada e tentar barrar a CPI.

No entanto, apesar do escancarado balcão de negócios do governo, com cargos e liberações de emendas à venda, fica cada vez mais difícil conter a crise que toma conta do Congresso. Apenas cinco deputados retiraram suas assinaturas do pedido de CPI: quatro parlamentares do PL e um do PP, partido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti.

O deputado do PCdoB, Inácio Arruda, chegou a pedir a retirada de sua assinatura, mas depois voltou atrás. No entanto, seu partido declarou-se contrário à investigação. Segundo nota divulgada pela liderança do PCdoB na Câmara e no Senado, “o governo e a base aliada devem se mobilizar para que ela (a CPI) não se instale”.

O pedido de abertura de inquérito conta agora, na Câmara, com 217 nomes, sendo que são necessárias apenas 171 assinaturas para a instauração de CPI. No senado, 49 senadores assinaram, 22 a mais que o mínimo necessário.

Cargos e emendas
Para impedir qualquer tipo de apuração, o governo oferece cargos e emendas do orçamento que foram contingenciadas (bloqueadas) pela tesoura de Palocci. São R$ 7,2 bilhões nas mãos de Dirceu para comprar deputados e senadores. Severino Cavalcanti já deu seu recado pra Lula, através da ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef: “Quero aquele cargo que Lula me ofereceu na viagem a Roma”, disse se referindo à viagem para o funeral do Papa. “O que o presidente me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero”, teria especificado Severino.

Percebendo que isso não bastaria para satisfazer todos os parlamentares, o governo passou à ofensiva e ameaçou reativar a CPI para investigar as privatizações do setor elétrico durante os governos de FHC. A CPI, aberta no ano passado, apenas se instaurou e foi logo paralisada pelo próprio PT. O governo, sabendo das falcatruas realizadas pelos tucanos na festa das privatizações, ao invés de denunciar, cala-se e utiliza isso para evitar investigação de corrupção na gestão Lula.

Cresce a crise
Se o governo não consegue conter a própria base aliada, a oposição burguesa nada de braçada. No entanto, essa história promete não ter heróis. A revelação da cobrança de propina pelo deputado Roberto Jeferson, presidente do do PTB e da base do governo, está trazendo a tona, mais uma vez, o mar de lama que encobre tanto o governo Lula quanto a gestão de FHC.