Ignorando todas as críticas feitas pelos movimentos sociais e por especialistas, o governo Lula está prestes a iniciar o projeto de transposição do Rio São Francisco. Mesmo depois da greve de fome de dez dias do bispo Luiz Flavio Cappio, em outubro de 2005, encerrada após a promessa do governo de que iria discutir o projeto, nenhuma linha da proposta original foi alterada. Confirma-se assim que o governo desejava somente enrolar os movimentos sociais para novamente tentar implementar a transposição.

Para dar início as obras, o governo está aguardando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não deliberou sobre as liminares contra a implementação do projeto. Lula tem pressa em iniciar as obras, pois sua intenção é utilizá-las como peça de propaganda política nas eleições de outubro.

De acordo com a legislação eleitoral, nenhuma obra pode ser inaugurada com a presença dos candidatos à Presidência da República três meses antes das eleições. Se as obras não forem iniciadas até julho, Lula não poderá visitar o local onde estará sendo construído o empreendimento.

Segundo o governo, a transposição do Rio São Francisco custará à União R$ 4,5 bilhões. O projeto consiste em transportar as águas do Rio São Francisco para as regiões necessitadas, aproveitando o potencial de oferta hídrica supostamente disponível no rio. Vários especialistas, contudo, denunciam que a obra não irá resolver os problemas do povo sertanejo e que o projeto somente vai trazer benefícios ao agronegócio. Ao longo dos canais que serão construídos para escoar as águas do rio estão instalados grandes fazendas de uva, manga, criação de camarão e outros produtos voltados para a exportação. A obra nem saiu do papel e a especulação sobre as terras já cresce vertiginosamente. Grandes latifundiários esperam valorizar suas terras em 400% com a água aberta ao agronegócio. Além disso, discute-se o impacto ambiental que a transposição poderá causar.

É preciso lutar contra essa medida eleitoreira que visa apenas beneficiar poucos latifundiários. Para resolver de fato os problemas do sertanejo, é preciso investir em obras de recuperação do rio, instalação de cisternas, poços artesianos, barragens subterrâneas entre outras obras, além de promover uma profunda reforma agrária, sem indenização aos latifundiários. Essas medidas poderiam alcançar diretamente os milhões de nordestinos que sofrem com o problema da seca.

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