Diante do aumento nos preços das commodities, Dilma dá carta branca para o Banco Central aumentar os jurosO discurso otimista esbanjado pela então candidata Dilma Roussef no ano passado não durou muito. Tão logo pendurou a faixa presidencial, o futuro deixou de ser tão radiante. Logo na primeira ação do governo, a nova mandatária realizou um corte recorde no Orçamento, tirando R$ 50 bilhões dos gastos previstos para 2011.

O governo anunciou sua política de arrocho para conter a inflação, seguindo o argumento de que o aumento dos preços seria causado pelo crescimento econômico e o aumento desenfreado do consumo. No entanto, o primeiro Relatório de Inflação do Banco Central, divulgado no último dia 30, refuta esse discurso.

Inflação
O documento do próprio governo reconhece que não será possível atingir a meta de 4,5% de inflação para 2011, devido ao aumento nos preços das commodities (produtos para exportação, cotados no mercado internacional) e seu impacto sobre os alimentos. Segundo o relatório do banco, a inflação este ano deve ficar em 5,6%, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Já o mercado acredita numa inflação de 6%. Ou seja, mesmo com uma política agressiva de contenção fiscal para segurar a economia, o governo não deve cumprir sua meta de inflação.

Na apresentação do relatório, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, explicou à imprensa as razões do aumento da inflação: “No segundo semestre de 2010, o mundo e nós fomos apanhados de surpresa por um gigantesco choque de commodities. Em nove meses, os preços subiram 70% e isso tem mais impacto no Brasil do que em outros países”, relatou.

O Banco Central trabalha agora com uma “margem de manobra” para o teto da inflação de 6,5%, mas mesmo isso está ameaçado. Para conter o aumento de preços, Dilma deu carta branca ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini fazer “o que for preciso”. E isso significa juros mais altos, mais cortes, e arrocho. As medidas do governo Dilma já reduziram as expectativas de crescimento para 2011 para 4%.

O ‘sacrifício´ do governo
Representantes do mercado financeiro e analistas econômicos, apesar dos sucessivos cortes anunciados, não se satisfazem e pedem mais sangue. Afirmam ser necessária uma demonstração de “sacrifício” maior por parte do governo. O governo Dilma, por sua vez, atende aos apelos do mercado e passa a bola para o Banco Central elevar ainda mais os juros.

O sacrifício exigido pelo mercado financeiro, porém, não será do governo. Os verdadeiros sacrificados serão os trabalhadores que, além de sofrerem com o aumento da inflação dos alimentos, que atinge em maior proporção os mais pobres, encontrarão pela frente uma economia em desaceleração e serviços públicos cada vez mais sucateados.