Estamos em mais um janeiro em que as cenas se repetem: as águas invadem casas, enchem ruas, causam mortes. Famílias, desesperadas, vêem-se do dia para noite sem nada. O pouco que acumularam com tanto esforço perde-se na lama.

O presidente Lula, depois de visitar três estados, declarou em Brasília que “sente pena dos prefeitos quando dá um trovão”, saindo em defesa da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e dos demais prefeitos do país. Ele disse também que “não existe poder ainda para a humanidade controlar a força da natureza”.

Mas a culpa pela tragédia das enchentes nas grandes cidades, especialmente nas periferias, não é da “força incontrolável” da natureza. Faltam serviços essenciais de saneamento, não há investimentos suficientes em sistemas de drenagem e nenhuma política de reforma urbana que ataque a especulação imobiliária e garanta moradia digna, fora de áreas de risco para a população pobre.

E isso é culpa dos sucessivos governos municipais, estaduais e, principalmente, do governo federal, que num ato de completa irresponsabilidade social, continuam drenando o grosso de sua arrecadação para pagamento de juros e parcelas das dívidas externa e interna aos banqueiros.

Em 2003, os juros pagos aos banqueiros pelas esferas federal, estadual, municipal e empresas estatais foram de 145,2 bilhões de reais (ver gráfico). Apenas o governo federal destinou nada menos que 132,5 bilhões ao pagamento da dívida, enquanto destinou a todas as áreas sociais existentes, incluindo saúde e educação, 70,8 bilhões de reais. Além dos baixos montantes programados, estes não foram aplicados em sua totalidade. Áreas como urbanismo, habitação, saneamento e gestão ambiental, que deveriam prevenir as enchentes, receberam menos de 40% das verbas programadas.
O governo Lula está pagando mais juros aos banqueiros do que FHC. Não bastasse se comprometer com o FMI a realizar um superávit primário (economia para pagamento de juros) de 4,25% do PIB, superior ao de FHC, Lula economizou ainda mais dinheiro para pagar a dívida: 66 bilhões, ou 4,32% do PIB.

Mas toda essa “economia” não foi suficiente para pagar sequer metade dos juros. Faltaram 79 bilhões de reais, pagos com novos empréstimos, o que, por sua vez, aumentou a dívida.

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JUROS PAGOS EM 2003

  • Governo federal
    R$ 100.901 milhões

  • Governos estaduais
    R$ 34.851 milhões

  • Governos municipais
    R$ 5.973 milhões

  • Empresas estatais
    R$ 3.484 milhões

    FONTE: Banco Central
    Post author Mariúcha Fontana, da redação
    Publication Date