O presidente Jair Bolsonaro durante encontro com o presidente do Paraguai, Mário Abdo Benitez.

Jeferson Choma, da redação

O acordo de Itaipu mobilizou o povo paraguaio e ameaça seriamente o presidente do país, Mario Abdo Benítez, com um processo de impeachment. Pelo acordo negociado às escondidas da população, o Paraguai pagaria mais caro pela energia proveniente de Itaipu. A estimativa é que o aumento de custo obrigaria o Paraguai a pagar mais de 200 milhões de dólares por ano.

Quando acordo veio a público, no mês passado, o presidente Benítez foi acusado de traição à pátria por tê-lo assinado. Milhares foras às ruas do nosso país vizinho, e um amplo e justo debate sobre o caráter colonial sobre o Tratado de Itaipu, assinado em 26 de abril de 1973, tem sido realizado.

No entanto há um outro elemento podre nessa história. A interferência do governo miliciano de Jair Bolsonaro que pretendia “fazer um gato” em uma das maiores hidroelétricas do mundo e beneficiar sua família e amigos.

Puxando os fios
Uma reportagem do jornal ABC Color em colaboração com o Estado de S.Paulo, mostrou que o empresário Alexandre Giordano, que é suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), serviu como intermediário do esquema para mudar o acordo de Itaipu e assim favorecer a empresa brasileira Léros Comercializadora, da qual ele é sócio.

O acordo entre Bolsonaro e Benítez suprimia o item 6, que permitia à Ande (a estatal paraguaia de energia) vender diretamente no mercado brasileiro a chamada energia excedente mais barata. Com a remoção do item 6, o acordo privilegiaria empresas brasileiras que quisessem comprar o excedente, como a Léros. O plano era simples: pagar barato pela energia paraguaia e revendê-la mais caro no Brasil. Isso significaria que o povo paraguaio e você pagariam uma energia mais cara, enquanto a Léros faturaria milhões.

Bolsonaro e sua família de milicianos também ganhariam muito dinheiro com isso. Segundo o advogado José “Joselo” Rodríguez, que se apresentava como assessor jurídico do vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, a Léros se dizia representante da “família presidencial” e do “governo brasileiro”.

A empresa é tão próxima dos Bolsonaros que até a sede do diretório estadual do PSL de São Paulo, cujo presidente é o deputado Eduardo Bolsonaro, funcionou no mesmo prédio onde ficam as empresas de Giordano.

Modus operandi
O acordo é muito pedagógico, pois mostra como age o governo miliciano de Bolsonaro. As milícias que atuam nas comunidades do Rio de Janeiro vivem da extorsão dos moradores. Cobram taxas por serviços básicos como água, luz, gás, transporte alternativo, venda de imóveis, sinal clandestino de TV, Internet e, claro, segurança. Esse é projeto de Bolsonaro para o Brasil. E começa querendo fazer um gato em Itaipu para cobrar mais caro pela energia.

Lá no Paraguai o acordo virou um escândalo que pode derrubar um governo. Mas por aqui a grande mídia, como a rede Globo e a Record, fazem um silêncio ensurdecedor.