Redação

O dia 10 de junho de 2004 será lembrado como o dia em que soldados brasileiros pisaram em terras haitianas para tentar desarmar um povo em luta

Yuri Fujita

`Soldados

A última semana foi marcada pelo envio de 1.200 soldados brasileiros ao Haiti e pela cessão do comando da chamada Força Internacional de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) ao Brasil. O governo Lula, ao liderar a missão da ONU, vai desempenhar o vergonhoso papel de comandar cerca de 6.700 homens de diversos países para combater e desarmar os rebeldes haitianos, utilizando-se de seu prestígio internacional para garantir “a manutenção da paz e o restabelecimento da democracia” no Haiti.

O motivo que levou o governo Lula a se oferecer para liderar a missão da ONU no lugar dos EUA não é nada nobre. Diferentemente do que vem defendendo publicamente, Lula está buscando ganhar autoridade para ocupar um posto definitivo no Conselho de Segurança da ONU, sobressaindo-se enquanto mediador do que se chama de “crises regionais”.

Por outro lado, também quer, como governante, evitar que essas “instabilidades”, como a acontecida no Haiti, se alastrem pela América Latina. “A instabilidade, ainda que longínqua, acaba gerando custos para todos nós”, afirmou o presidente.

Para o governo Bush, essa iniciativa cai como uma luva em seu projeto de manter a hegemonia política e econômica na região caribenha. Desde a queda do presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide, no final de fevereiro deste ano, as tropas francesas, canadenses e norte-americanas, lideradas pelos EUA, estavam tendo dificuldades em conter as revoltas no país. Segundo fontes da ONU, cerca de 20 mil pessoas possuem armas no Haiti e a enorme rejeição aos antigos colonizadores (EUA e França) tornou-se um entrave para seu programa de desarmamento.
Os EUA, preocupados com o atoleiro em que se meteram no Iraque, não poderiam correr o risco de participar de nova ocupação falida. Procuraram, assim, aquele que mais poderia obter êxito em conter a crise no Haiti: o governo brasileiro.

Mostrando-se fiel escudeiro de Bush e utilizando-se de seu prestígio internacional como governante de esquerda, Lula não só se prontificou a enviar seus soldados, como iniciou uma campanha para que outros países latino-americanos e europeus se dispusessem a enviar tropas sob sua liderança. Ou seja, o Brasil é a salvaguarda do imperialismo norte-americano para implementar seu plano de recolonização no Haiti.

O drible ao sentimento anti-americano

Após diversas intervenções militares norte-americanas, é evidente o sentimento anti-americano entre a população haitiana. Os soldados ianques são repelidos pela população que os identifica como interventores e responsáveis pela crise econômica no Haiti.

Um cômico jogo de futebol, organizado pelo exército norte-americano para convencer moradores de uma favela a entregar suas armas, foi um fracasso, pela desconfiança com a simples presença dos soldados.

A diferenciação que faz o povo haitiano entre brasileiros e norte-americanos em seu território é visível e está sendo utilizada pelo governo Bush e pela ONU. Muitas declarações da população haitiana, nesta última semana, expressavam simpatia pela chegada das tropas brasileiras. Porém, a esperança da população é de que as forças comandadas pelo Brasil tragam soluções para seus problemas cotidianos. Hoje, oito em cada 10 pessoas no Haiti vivem abaixo da linha de pobreza.

A intenção do governo Lula, no entanto, é outra. Longe de atender às reivindicações das massas haitianas o governo brasileiro utiliza sua influência sobre outros países para garantir a intervenção iniciada pelos EUA e a manutenção de um governo que represente os interesses imperialistas.
Post author Yuri Fujita, da redação
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