O governo Lula se manteve intransigente frente à greve de fome do bispo de Barra (BA), frei dom Luiz Cappio, que chegava ao seu 23º nesse dia 19 de dezembro. Para abrir o diálogo e vencer a intransigência do governo, o frei apresentou, no dia anterior, um documento no qual relacionava oito condições para o fim da greve de fome, entre elas a suspensão das obras de transposição por 60 dias.

O frei exigia, ainda, a retirada do exército da região e a revitalização da bacia do rio São Francisco. Com a intransigência do governo que, além de trair e descumprir o acordo realizado com o bispo há dois anos, recusava-se a parar as obras apesar da greve de fome, dom Cappio tinha esperanças de que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinasse a suspensão da transposição. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, já havia expedido uma liminar interrompendo as obras.

O STF, porém, analisou o pedido de suspensão das obras apresentado pelo próprio procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, mas manteve a continuidade da transposição. Apesar dos reveses da Justiça, a mobilização em apoio a Cappio se amplia. Vários manifestantes de diversos movimentos sociais e populares foram a Brasília protestar contra a transposição e em apoio ao frei. Cerca de mil ativistas bloquearam a ponte que liga Juazeiro a Petrolina em apoio ao protesto do bispo.

Lula põe vida de frei em risco
Desde o início do protesto de dom Cappio, o governo promoveu uma enorme campanha para desmoralizar o frei e seguir com a transposição. No entanto, a greve de fome do bispo recolocou o tema em pauta e impulsionou a luta contra o projeto. Lula, entretanto, mantinha-se intransigente.

Nesse dia 19, a saúde do bispo se deteriorava rapidamente. Além dos nove quilos perdidos, os rins de Cappio já apresentavam problemas. O religioso sofria ainda com sangramento nos lábios e dores no corpo. Ao saber da decisão do STF, o frei desmaiou e foi internado.

O clínico geral que o acompanhava, Klaus Finkam, decidiu internar dom Cappio e, junto com os familiares do religioso, tentam convencê-lo a suspender a greve de fome, que já chega a um nível crítico. Uma ambulância transportou Cappio de Sobradinho (BA) para Petrolina, em Pernambuco. Apesar de vários veículos de comunicação terem anunciado o fim da greve de fome, assessores do bispo divulgaram que o jejum prossegue até que ele recobre a consciência e decida os rumos do protesto.

Mesmo com esse quadro dramático, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, telefonou para o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Geraldo Lyrio Rocha, informando que o governo não aceitava a suspensão das obras.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), não só reafirmou a continuidade da transposição como anunciou a licitação do primeiro lote das obras. “vou anunciar o vencedor do primeiro lote da licitação que vai trazer a empresa privada para as obras, afirmou o ministro.

Avançar a luta contra a transposição
O heróico protesto de dom Luiz Cappio serviu para denunciar o projeto e massificar a luta contra a transposição, que beneficia apenas latifundiários e multinacionais.

A greve de fome também explicitou o comprometimento de Lula com fazendeiros em detrimento da população pobre do sertão nordestino e dos movimentos sociais e populares. Poucas vezes ficou tão óbvio o caráter cruel desse governo neoliberal, que privilegia a lógica do lucro.

Com ou sem greve de fome, é fundamental, agora, fazer avançar a mobilização contra a transposição, unificando, nas regiões, todos os setores combativos contra o governo.

Neste dia 20, quinta-feira, ocorre na capital paulista uma reunião para organizar a luta contra a transposição. A reunião será às 15h na Pastoral Operária.

  • Veja o boletim médico de dom Cappio