Apesar de toda a pressão dos movimentos sociais e ambientalistas, o governo Lula, através do vice-presidente José Alencar, assinou a MP-131, que libera o plantio de soja transgênica. Esta medida provisória foi uma exigência direta dos grandes empresários e dos latifundiários rurais, principalmente os do Rio Grande do Sul, onde este tipo de plantio já esta mais desenvolvido. Nem FHC tinha chegado a tanto.

A liberação dos transgênicos pelo governo Lula é a culminação de uma série de fatos que deveriam acabar com uma polêmica que atravessa o movimento pela reforma agrária: quem de fato manda neste governo?

Primeiro, foi a liberação em março da comercialização da soja transgênica produzida no país. Depois, os recursos para o financiamento da safra, que para a agricultura familiar destinou R$ 5,8 bilhões, enquanto os latifundiários abocanharam cerca de R$ 27 bilhões.

Enquanto os grandes latifundiários são beneficiados com as verbas, o governo Lula corta mais uma vez R$ 30 milhões da reforma agrária.

Depois de defender os interesses do latifúndio na reunião da OMC em Cancún, o governo Lula decide beneficiar grandes multinacionais como a Monsanto, a grande interessada na liberação dos transgênicos no Brasil.

A medida provisória abre caminho para que os pequenos agricultores fiquem completamente reféns das multinacionais, por controlarem a venda de sementes para plantio. O governo Lula assumiu claramente sua posição em relação ao desenvolvimento agrícola brasileiro, ao lado do agribussines.

Agora perguntamos: o que os movimentos sociais do campo, como o MST, e as federações dos sindicatos rurais esperam para romper com este governo?

O governo Lula está comprometido com os interesses do grande latifúndio e do sistema financeiro nacional e internacional e por isso não irá fazer a reforma agrária. È impossível falar em reforma agrária sem expropriação das áreas de multinacionais e conglomerados financeiros como Bradesco, Real, e Itaú, enfim, os grandes latifundiários do Brasil.

Como disse o coordenador da CPT, bispo Dom Tomás Balduíno, o que sobra para os sem-terra e pequenos produtores é uma “reforma agrária compensatória” igual ao “Fome Zero”.

Não haverá qualquer perspectiva para a agricultura familiar e para a reforma agrária sem uma luta tenaz contra a Alca, que com a sua implementação, aprofundará ainda mais a concentração de terras. E a liberação dos transgênicos é parte do mesmo processo de reformas em direção a Alca.

Por isso a luta pela reforma agrária e a luta contra a Alca e pela revogação da MP dos Transgênicos são contra o governo Lula. Se não soubermos contra quem estamos lutando, não podemos ganhar a peleja. E o governo é um obstáculo para a reforma agrária.

O MST, a maioria dos sindicatos rurais e as federações, presos a lógica de disputar o governo, estão colocando o movimento pela reforma agrária num impasse. Passou da hora de romper com o governo e chamar os movimentos sociais a uma grande campanha nacional pela reforma agrária.

Post author Romier Souza,
Engenheiro agronômo e colaborador do ILAESE
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