A estratégia de recolonização dos EUA para a América Latina está baseada em três elementos-chaves: na Alca, na garantia do pagamento pontual da dívida externa e na ampliação de suas bases militares. Estes são os temas que a Campanha Nacional Contra a Alca vem denunciando desde sua formação.

A dívida externa é responsável por grande parte das transferências de riquezas dos países latino-americanos para o imperialismo. Através dos planos de ajuste estruturais do FMI, o imperialismo submete toda a política econômica dos países devedores, fazendo com que toda a economia e o orçamento do governo estejam voltados para o pagamento da dívida.

Para garantir o pagamento da dívida externa, o FMI se apóia em dois mecanismos: exige que os países exportem, para gerar dólares que são desviados para pagar a dívida, e retira do que o país arrecada com impostos, do orçamento público, e envia para novamente pagar os juros da dívida.

Mas, em épocas de crise da economia mundial, esses mecanismos não são suficientes para seguir pagando a dívida. Por isso os EUA querem avançar em sua política de recolonização dos países da América Latina, para ampliar a transferência de riquezas.

A maioria das exportações dos países devedores se dirige para os mercados dos países centrais, como no caso dos EUA. Isso levou este país a enfrentar um déficit comercial de US$ 537,8 bilhões, o maior de sua história.

Para diminuir este déficit, os EUA exigem dos países subdesenvolvidos a abertura de seus mercados para aumentar suas exportações. É a política do “livre comércio” expressa na Alca.

Livre comércio e aumento da dívida externa: lógica infernal

Os países que assinaram acordos de “livre comércio” com os EUA, como no caso do México, vivem uma lógica infernal. Ainda que tenha aumentado as exportações aos EUA, o México aumentou ainda mais as importações, o que gerou diminuição da capacidade de pagamento da dívida, pois o país passou a gerar menos saldo comercial em sua balança.

A dívida externa aumentou ainda mais, e por isso o dinheiro do orçamento federal é desviado em uma quantidade cada vez maior para o pagamento dos juros da dívida.
Ao manter os acordos com o FMI, que exige uma parte cada vez maior do orçamento brasileiro para pagar a dívida, o governo Lula prepara a entrada do Brasil na Alca, de acordo com as exigências dos EUA.

A falta de verbas para a saúde e educação tende a piorar. O recente episódio em que o governo teve que pedir ao FMI dinheiro para o saneamento básico, e o FMI negou, indica que já não temos nenhuma soberania e que, com a Alca, tendemos a nos transformar diretamente em uma colônia.

Alca e acordos bilaterais

Uma parte importante da política dos EUA é a conformação de acordos comerciais bilaterais ou regionais. A administração Bush, desde o inicio de seu mandato já firmou 170 acordos desse tipo com os mais diversos países ao redor do mundo. O próprio FMI classifica esse procedimento de “novo frenesi” da política externa do imperialismo.

Na América Latina são muitos os governos que já celebraram tratados comerciais bilaterais ou regionais com os EUA. O mais recente foi fechado com o Chile, incluindo total liberação financeira. Costa Rica, El Salvador, Guatemala Honduras, Nicarágua e República Dominicana vão fechar acordos semelhantes. E Peru e Colômbia são os próximos da fila.

É preciso compreender que o avanço das negociações bilaterais ou regionais na América Latina constituem diferentes vias que conduzem ao mesmo objetivo estratégico do imperialismo de recolonizar América Latina.

Os acordos regionais ou bilaterais já significam o avanço da implementação da Alca. Nesse sentido, a postura do governo Lula de propor um acordo de mínimos que pode ser aprofundado de forma bilateral ou regional, corresponde a estratégia dos EUA.

A Alca já está sendo aplicada, seja em acordos regionais e bilaterais, seja atendendo ás exigências do FMI. Não existe nenhuma possibilidade de um acordo que possa beneficiar o povo trabalhador, a única política realista é a saída das negociações.

Lula defende os interesses de grandes corporações e latifundiários

Em artigo na Folha de São Paulo, o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante, diz que a política externa está pautada no “pragmatismo sereno e racional …e nos interesses nacionais”.

Por defesa dos “interesses nacionais” entenda-se exigir melhores condições de exportação “aos produtos nacionais” e ainda que traria melhores condições de vida dos trabalhadores.

O problema é que quem exporta não é o “Brasil” e sim um punhado de grandes empresários e latifundiários que se pode contar nos dedos. Vejamos, então, o que são, de fato, as “nossas” exportações e quais os reais interesses que o governo Lula vem defendendo nas negociações da Alca.

No Brasil, mil grandes empresas são responsáveis por 84% do conjunto das exportações. Sendo que dessas, 246 são multinacionais responsáveis por 55% das exportações “verde-amarela”. As “verde-amarelas”, como a Gerdau e a Sadia do ministro Furlan, lucraram dez vezes mais do que em 2002. A Vale do Rio Doce aumentou seu lucros 649% em relação ao ano passado.

Enquanto aumenta os lucros dos exportadores, o governo prepara a reforma trabalhista para retirar direitos e tornar mais competitivos “nossos produtos”. Isto sem falar no arrocho salarial, base deste plano de aumento das exportações.
No mesmo artigo, o senador Mercadante diz que “devemos deixar claro, de antemão, que é de todo interesse do Brasil aumentar o volume de seu comércio… especialmente com os EUA”. A quem interessa este aumento das exportações? Vejamos o caso do suco de laranja.

O Brasil produz 50% do suco de laranja consumido no mundo. Mas apenas 1% do que é produzido é consumido aqui no Brasil. O restante é destinado à exportação. Os EUA, por outro lado, produzem 40% do suco de laranja do mundo e consome todo o suco de laranja produzido.

Por que, em vez consumir o suco de laranja aqui, o “interesse do Brasil” é exportá-lo aos EUA? O que o senador chama de “interesses do Brasil” não passam da defesa dos lucros dos latifundiários, que não têm nenhum interesse em produzir alimentos para a população e, sim, em obter, cada vez mais, o máximo de lucro.

Mais uma fraude eleitoral

Lula e Mercadante foram eleitos dizendo que defendiam o fortalecimento do mercado interno e a ampliação do consumo de massas. Nós, do PSTU, sempre afirmamos que tal programa de “capitalismo com distribuição de renda” era uma utopia reacionária. E, mais, que um governo de aliança com a burguesia brasileira além de aumentar a exploração dos trabalhadores, sequer defenderia a soberania do país. Isso por um motivo muito simples: os negócios da burguesia brasileira são atrelados aos do imperialismo. A classe dominante brasileira quer a Alca.

Dito e feito. O governo de aliança do PT e PCdoB, com os Furlans, Rodrigues & cia é pró-imperialista, é pró-Alca. Ou seja, o grande centro da política do governo não é mais fortalecer o “mercado interno”, senão, aumentar as exportações.

O governo do PT rompe com seu próprio programa e passa a ter uma política entreguista de subordinação completa ao imperialismo. E isto se explica pelo fato de que o governo responde aos interesses da burguesia, representada no governo por um vice-presidente exportador e mais vários ministros.

Sem parar de pagar a dívida e romper as negociações da Alca, não existe qualquer possibilidade de melhorar a vida do povo trabalhador. Mas para romper com o imperialismo, o PT no governo também teria que romper com a burguesia, pois esta já fez a opção de transformar o Brasil em colônia em troca do acesso ao mercado dos EUA. O PT e o governo Lula seguem exatamente o caminho que a burguesia e o imperialismo querem.

Post author Jeferson Choma e João Ricardo Soares,
da redação
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