José Dirceu representa o governo na abertura dos trabalhos da Câmara, presidida por Severino
Agência Câmara

Em um segundo turno, Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP) tem menos votos do que no primeiro e perde para o azarão Severino Cavalcanti (PP-PE)O governo Lula sofreu a sua maior derrota no Congresso Nacional. Pela primeira vez, um partido que comanda o governo, e que possui a maior bancada, não é capaz de eleger o presidente da Câmara. Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP) era o favorito. Mas, como tem se costumado escutar no futebol carioca, quem é que liga para favoritos?

A certeza foi desaparecendo ainda no primeiro turno da votação, cujo resultado só foi conhecido de madrugada do dia 15, por volta das 03h. O candidato oficial do PT teve 207 votos, bem menos do que lhe haviam prometido pelos corredores do Congresso. Severino Cavalcanti (PP-PE) recebeu 124 votos, superando Virgilio Guimarães (PT-MG), que teve 117 votos e retirou-se do plenário. No segundo turno, já quase amanhecendo, o PT conseguiu uma proeza. Greenhalgh teve apenas 195 votos – menos do que os 207 obtidos no primeiro turno, três horas antes. Já Severino Cavalcanti, que já havia se candidatado por duas vezes, conseguiu ser eleito presidente da Câmara, com 300 votos.

O país acordou com a surpresa. Sabe-se lá se, Lula, em visita oficial à Guiana, pôde dormir. De nada adiantou o corpo-a-corpo dos últimos dias, com Greenhalg oferecendo churrascos, jantando com a bancada evangélica e criticando as ocupações de terra para agradar a bancada ruralista. Tampouco funcionou o empenho de 10 ministros e do atual presidente da Casa, João Paulo Cunha, cortejando e negociando com os deputados. Os deputados, tanto faz se da oposição ou da base aliada, despejaram votos em Severino, cuja campanha foi marcada pela altíssimo nível das propostas: “Queremos equivalência salarial com os ministros do Supremo Tribunal Federal”, declarou o novo presidente, que, curiosamente, faz parte de um partido da base aliada.

De quem é a culpa?
Na manhã seguinte, os petistas saíram em busca de explicações para o resultado e, é claro, de culpados. “O fato da maior bancada perder a eleição da Mesa é porque nós cometemos erros, tivemos falhas, e temos que levar isso em conta daqui pra frente”, declarou José Genoino, presidente do PT. Um dos motivos que muitos petistas apontam para a derrota é a crise que foi aberta pela existência da candidatura de Virgílio Guimarães (PT-MG), possivelmente motivada por uma promessa de apoio de Lula à candidatura de Itamar Franco ao Senado por Minas Gerais.

Uma outra razão que transpareceu nos discursos dos cardeais petistas foi a timidez no fisiologismo. Para um partido que abandonou os movimentos sociais para representar o imperialismo, o erro, pode ter sido não ter oferecido as benesses suficientes aos parlamentares e não ter usado todo o potencial da máquina do goveno para garantir os votos. “A atenção, o relacionamento, o atendimento dos parlamentares tem que ser melhorado imediatamente pelos ministros do governo. É uma reclamação que aparece muito“, lamentou Genoino. O mesmo tom foi seguido por Greenhalg: “O voto que me derrotou foi o voto da insatisfação com o governo pelo tratamento dado aos parlamentares“.

A conta para o governo Lula
O presidente Lula tentou descolar a derrota de Greenhalg do governo: “O governo não disputou. Veja, quem disputou foi o PT.“ Como se fosse possível. Até mesmo um dos coordenadores da campanha derrotada, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), admitiu que “Greenhalgh perdeu a eleição, mas o derrotado é o governo“.

O mercado também entendeu a escolha dos parlamentares desse jeito. O dólar resolveu dar um tempo na queda e teve alta, motivado pelo que foi chamado de ‘Efeito Severino’. Empresários e banqueiros ficaram preocupados. Temem que a derrota inaugure uma crise no governo, com a perda definitiva do controle de sua base no Congresso, o que prejudicaria a aprovação de projetos como o que dá autonomia ao Banco Central, uma exigência do FMI e do imperialismo.

Para evitar este cenário, o que inviabilizaria um projeto de reeleição de Lula, o PT agora disputa, deputado a deputado, o posto de maior bancada da Câmara, ameaçado pela revoada de parlamentares para o PMDB. Nesta terça, havia garantido, com a filiação do deputado Miro Teixeira (RJ), aos 45 do segundo tempo.