Durou pouco o discurso vazio de que o país não será afetado pela crise econômica internacional. O governo sustentou até onde pôde a tese do descolamento da economia nacional diante do período de recessão que se desenha no mundo. No entanto, nos últimos dias, o discurso oficial sobre os efeitos da crise no Brasil já mudou drasticamente.

Até mesmo Lula já afirmou que haverá cortes no Orçamento da União em 2009. “Não posso assumir o compromisso de que, se houver uma crise econômica que abale o Brasil, a gente vá manter todo o dinheiro dos ministérios”, chegou a afirmar Lula durante a cerimônia de comemoração dos 60 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) nesta última terça-feira, dia 21.

Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não foi tão comedido. “A crise não está acabando e ainda dará muita dor de cabeça ao país”, disse em audiência pública realizada na Câmara dos Deputados no mesmo dia. “Ninguém escapa dessa crise, que é mundial”, afirmou, preparando os ânimos para o que vem pela frente. Embora o governo insista ainda no argumento de que o país hoje está mais preparado para enfrentar a crise, foi obrigado a mudar seu discurso e, diante da realidade, reconheceu a gravidade do problema.

O fato é que o governo já revê a meta de crescimento e inflação para o próximo ano e praticamente dá como certo os cortes no orçamento. “Que haverá cortes, não tenho dúvida e para nós o que interessa é o valor, não onde vai cortar, afirmou o senador Delcído Amaral (PT), relator do Orçamento para o próximo ano. O senador recomenda cortes de até 20% no custeio da máquina pública e também nos investimentos.

O ministro do Planejamento Paulo Bernardo, por sua vez, ameaçou cancelar reajustes já concedido ao funcionalismo, além de apontar o adiamento de novos concursos públicos. Nem mesmo o PAC vai escapar dos cortes e prevê-se um corte de até 28 bilhões de reais dos investimentos programados.

Pacote de Lula para os bancos
Ainda na cerimônia da SBPC, Lula justificou a ajuda bilionária dada pelo governo aos bancos e ao setor exportador. “Quando o filho adolescente vem atrás do pai? Quando está sem dinheiro ou doente. O mercado que ditou as regras quando precisa recorre ao paizão que é o Estado”, explicou.

E governo brasileiro vem sendo um tremendo paizão ao mercado. Já foram liberados R$160 bilhões dos compulsórios para ajudar os bancos. Mais de US$20 bilhões das reservas internacionais foram queimados para ajudar os exportadores com problemas de crédito. O governo vai ainda liberar cerca de R$6,5 bilhões para ajudar o setor agrícola e da construção civil.

A mais recente ação anunciada pelo governo para conter a crise é a Medida Provisória 443, que vai permitir que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprem ações de instituições financeiras combalidas pela crise. É o pacote Bush versão tupiniquim editado por Lula. A MP também permite ao governo adquirir ações de empresas da construção civil em dificuldades.
Ao mesmo tempo em que prevê redução do crescimento e anuncia cortes, o governo não pensa duas vezes antes de liberar bilhões a banqueiros, fazendeiros e empreiteiras. Coisa de pai para filho.