Num momento em que o país está chocado com o caos aéreo que provocou o acidente com morte de quase 200 pessoas em São Paulo, causado, sobretudo, pela precariedade da infra-estrutura de aviação no Brasil, é anunciado o superávit recorde do setor público no primeiro semestre de 2007. Superávit é o resultado da receita menos a despesa dos governos e estatais, descontando os juros da dívida, ou seja, é a economia realizada com o arrocho para pagar esses juros.

Estados, municípios e União, assim como as empresas estatais, economizaram R$ 71,6 bilhões, o que corresponde a nada menos que 5,9% do PIB (o total de riquezas produzidas pelo país em determinado período). Em 2006, a economia do setor público ficou em R$ 57,1 bilhões, mostrando a tendência de crescimento do arrocho, apesar da falácia de que a dívida pública já não representa problema ao país.

Do total da economia conseguida pelo arrocho, R$ 44 bilhões veio do governo Federal. Enquanto isso, categorias de servidores, como o Incra, estão há mais de 100 dias em greve reivindicando reajustes e contratação de funcionários. Já os estados e municípios economizaram R$ 19,5 bilhões. Outros R$ 8 bilhões foram arrancados da receita das estatais. Comparação realizada pelo jornal Folha de S. Paulo revela que os recursos destinados ao pagamento de juros em uma semana já superam todo o investimento realizado no setor aéreo em quatro anos.

Com esse resultado, só no primeiro semestre do ano o governo já economizou a maior parte da meta de superávit para todo o ano de 2007. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) definiu como meta R$ 95,9 bilhões de economia. Só em junho, o setor público economizou R$ 11,6 bilhões. No entanto, nem mesmo todo esse arrocho foi suficiente para pagar os juros da dívida, que fecharam o semestre em R$ 78,8 bilhões. Ou seja, por conta dos juros da dívida, mesmo com um arrocho recorde, o país fecha a conta no vermelho.

Apesar do superávit recorde ser apontado por economistas como resultado do aumento da receita de impostos, ele reflete sobretudo a falta de investimentos do governo. O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) anunciado com estardalhaço pelo governo no início do ano, não teve empenhado nem 10% do orçamento previsto para o período. O plano iria resolver o problema de “infra-estrutura” do país.

Enquanto a equipe econômica se vangloria do arrocho, o setor público definha, o salário dos servidores são defasados e tragédias como a de Congonhas torna-se parte do cotidiano da população. Desta forma, o governo nos mostra com quantos mortos se faz um superávit.