Eduardo Cardozo e os secretários de Segurança do Rio e São Paulo
Agência Brasil

Polícia Federal e Abin vão monitorar manifestantes para apoiar repressão das polícias de Alckmin e Cabral

O governo federal vai trabalhar em conjunto com as polícias militares do Rio e de São Paulo. E não vai ser para encontrar o corpo de Amarildo ou combater a brutal violência policial que mata a juventude pobre da periferia. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou no último dia 30 um operativo conjunto entre a Polícia Federal e as polícias de Alckmin e Cabral a fim de investigar e reprimir ainda mais as manifestações públicas.

O anúncio foi realizado após reunião do ministro com o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, de São Paulo, Fernando Grella, e o diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello. Segundo o jornal O Globo, o secretário paulista teria sugerido o aumento de pena em casos de agressão a policiais e dano ao patrimônio, público ou privado. Cardozo ficou de encaminhar a sugestão, inclusive em reunião marcada com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Entre as tarefas colocadas para esse operativo estaria o “mapeamento” dos grupos que atuam nos protestos. Tal tarefa teria ainda participação da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, submetida ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que, por sua vez, responde diretamente à presidência.

A entrada em cena do Ministério da Justiça e da Polícia Federal decorre da preocupação do governo Dilma em relação à Copa do Mundo e ao eventual desgaste eleitoral trazido pelos protestos, já que os governos envolvidos representariam os maiores partidos do país: o PT pelo governo federal, PSDB em São Paulo e o PMDB no Rio. 

Apesar de formalmente anunciada na última semana, a ação conjunta dos órgãos de repressão já está em plena atuação. Segundo o jornal O Globo, a Polícia Federal já teria identificado 130 “suspeitos de incitar a violência”, identificados a partir das redes sociais e dos próprios protestos. As informações já foram repassadas às polícias do Rio e de São Paulo.

Repressão e criminalização
O anúncio do ministro da Justiça coincide com várias declarações da presidente Dilma atacando o “vandalismo” nos protestos, classificando-os como “barbárie” perpetrada por “fascistas”. Discurso repetido incessantemente também por grande parte da imprensa, principalmente após a revolta popular provocada pelo assassinato do jovem Douglas Rodrigues no último dia 27 na Zona Norte de São Paulo.

O jovem de apenas 17 anos foi baleado de forma gratuita por um policial militar durante uma abordagem no bairro de Vila Medeiros. O assassinato desatou uma onda de revolta dos moradores contra a violência policial. Durante as manifestações, vários ônibus foram incendiados e a rodovia Fernão Dias fechada. O policial foi indiciado apenas por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, ficou sete dias preso e já está solto. Ao mesmo tempo, um jovem detido pela agressão a um coronel durante protesto em São Paulo está encarcerado acusado de tentativa de homicídio, mesmo não tendo qualquer imagem que prove que o estudante encostou no policial.

Dois dias depois do assassinato de Douglas, outro jovem foi morto pela polícia. O adolescente Jean, de apenas 16 anos, foi baleado por um policial militar no Parque Novo Mundo, também Zona Norte. O assassinato gerou mais protestos, igualmente criminalizados pela imprensa e pelas autoridades, e reprimidos pela Tropa de Choque da PM.

O governo federal, por sua vez, ao invés de coibir e impedir essa espiral de violência policial contra as manifestações e a população pobre das periferias, incentiva e dá suporte a mais repressão. A entrada da Polícia Federal deve marcar um salto nos processos e inquéritos contra manifestantes, a exemplo do que ocorre agora em Porto Alegre com o indiciamento de ativistas do Bloco de Lutas, incluindo Matheus Gomes, militante do PSTU.

A população, no entanto, mostra cada vez mais cansaço da brutalidade da Polícia Militar, esse entulho autoritário herança da ditadura militar. Além da onda de protestos nas periferias, recente pesquisa da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 70% não confiam na polícia.

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Artigo: Repressão e Democracia