O ano de 2008 começou com mais um escândalo político envolvendo o governo Lula. A revelação do uso indiscriminado do chamado “cartão corporativo” por ministros e assessores para pagarem despesas pessoais, grande parte delas em artigos e serviços de luxo, causou indignação e serviu para mostrar mais ainda o caráter desse governo.
Ao contrário de outros escândalos, como o do mensalão, as denúncias não partiram de um adversário político. O absurdo do uso dos cartões partiu do próprio governo, através do portal Transparência, que divulga os gastos do governo federal. Através de uma consulta pela internet, pode-se verificar como o dinheiro público é utilizado para pagar caros restaurantes, motoristas particulares, e toda sorte de despesa que está longe do caráter “emergencial”, para o qual deveria servir o cartão.

Privilégios e mordomias
Os cartões substituíram as chamadas “contas B” do governo FHC. A explicação oficial para a existência desse tipo de conta são os custos do dia-a-dia dos ministérios e o gabinete de Lula, que não precisariam de licitação. Na prática, custeiam privilégios e mordomias de funcionários do governo. Servem ainda como moeda de troca para indicações políticas em cargos de confiança. Um brinde especial para os aliados.

A primeira a cair com o escândalo foi a ministra da Secretaria de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. A ministra não conseguiu explicar gastos como aluguel de carros e motoristas em dias sem nenhum compromisso oficial, assim como compras uma realizada em um “free shop”. Apenas com aluguéis de carros, Matilde Ribeiro gastou cerca de R$ 67 mil em 2007.

A ministra e setores do governo ensaiaram um discurso atacando um suposto racismo nas denúncias contra Matilde. No entanto, as contas pagas com o cartão e a própria ausência de explicação por parte da ministra demonstram que ela utilizou recursos públicos para pagar contas pessoais. Um caso que não se restringe à secretaria de Matilde, mas que atinge o governo de forma generalizada.

Crise sobe o Planalto
A crise política começou a se aproximar do presidente Lula quando foram divulgados os gastos de funcionários diretamente ligados ao seu gabinete. Um segurança do filho de Lula gastou R$ 55 mil em apenas nove meses. Outros dois seguranças que cuidam da família de Lula gastaram sozinhos R$ 140,2 mil nos último três anos.

Tão logo as denúncias apareceram, porém, os gastos da Presidência foram imediatamente retirados do portal Transparência. A justificativa para a censura dessas informações foi a segurança do presidente. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix, soltou a seguinte peróla: “quanto menor a transparência, maior a segurança”. As contas foram encobertas a fim de impedir que o escândalo tome proporções maiores e atinja Lula, ou até mesmo para impedir uma desmoralização maior da presidência. Somente um assessor especial do gabinete de Lula, gastou R$ 115 mil em 2007 com compras de luxo, vinhos e carnes para os churrascos presidênciais na Granja do Torto.

Raias do absurdo
Os detalhes do escândalo chegam a ser folclóricos. Um dos primeiros ministros pego no flagra da farra dos cartões foi o ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB). Orlando usou o cartão em restaurantes de luxo e até para comprar uma tapioca. O escândalo ganha contornos surreais quando é divulgado que um cartão da Marinha serviu para comprar um bicho de pelúcia.

CPI e o cartão tucano
A oposição de direita, com os tucanos à frente, anunciou a intenção de impor uma CPI para investigar o caso. A base governista, por sua vez, quis se antecipar e aprovar uma CPI chapa-branca no Senado. O PSDB respondeu ameaçando recolher assinaturas para uma CPI mista ou outra, na Câmara.

No meio desse já surrado jogo político foram revelados os gastos do governo do Estado de São Paulo com cartões similares aos corporativos do governo federal. Em 2007, o governo tucano de José Serra gastou R$ 108 milhões com despesas pessoais de seus representantes, mais do que os R$ 75 milhões dos cartões corporativos do governo Lula.

As cifras da farra dos cartões nem chegam perto do escândalo do mensalão. Muito menos representam um valor significativo próximo ao que o governo gasta no pagamento dos juros da dívida pública, cerca de R$ 160 bilhões por ano. No entanto, servem para mostrar o estilo de vida das pessoas que estão à frente do governo, em meio a restaurantes franceses, festas e motoristas particulares. Tudo pago com dinheiro público.

Fim dos privilégios
O escândalo dos cartões é apenas um dos aspectos de algo já bem conhecido: os privilégios sem limites dos representantes do governo. A começar pelos salários. O vencimento dos ministros é de R$ 8.362,80. Se isso não bastasse, os privilégios como os cartões, que o governo quer substituir por “diárias”, constituem um segundo salário.

O PSTU defende a imediata devolução de todos os gastos e mordomias, assim como toda sorte de pagamentos de contas pessoais de ministros e assessores com recursos públicos. Mais ainda, o partido defende que os parlamentares, ministros e funcionários do governo recebam de forma equivalente a um operário qualificado, sem qualquer tipo de privilégio.

Os novos ricos

Quem não se lembra de Silvinho “Land Rover” Pereira, ex-secretário do PT que recebeu o luxuoso veículo de presente de uma empresa que prestava serviços à Petrobras?

O ministro Orlando Silva, por exemplo, não vive só de tapioca. Entre os gastos do ministro ex-dirigente da UNE, está quase R$ 200 de uma churrascaria em São Paulo, em dia que não cumpria agenda oficial, ou R$ 217 no restaurante francês Le Vin Bistrô, na região dos Jardins da capital paulista. Outra refeição de Orlando no restaurante A Bela Sintra, também nos Jardins, custou R$ 468.

Já o ministro da Pesca, Altemir Gregolin, próximo da chamada esquerda petista, foi pego gastando R$ 500 em uma churrascaria.

Assim como no mensalão, a corrupção nos car­tões corporativos é usada para manter o alto padrão de vida dos novos ricos no poder, antigos dirigentes da esquerda que se deslumbraram com o poder e com seus privilégios.
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