Presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), pizzaiolo oficial do Senado

Avança acordo para pôr fim à crise política e salvar SarneyTorna-se cada vez mais evidente que, deixados à própria sorte, senadores enterrarão qualquer tentativa de investigação sobre os escândalos que estremecem o Senado há pelo menos dois meses.

Após a semana em que a crise política atingiu seu pior momento, com o discurso de defesa de Sarney, os bate-bocas entre parlamentares e, finalmente, o arquivamento das denúncias no Conselho de Ética, senadores trabalham para apaziguar os ânimos e pôr fim ao escândalo.

Se antes os caciques da direita como o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) subiam à tribuna para denunciar Sarney, agora estão pensando duas vezes antes de falar algo contra o presidente do Senado. Isso porque ocorre nos bastidores um acordo entre a base aliada do governo e a oposição de direita para arquivar todas as denúncias que estão na mesa do Conselho de Ética.

A estratégia do governo é trocar o arquivamento das denúncias contra Sarney no Conselho pelo arquivamento do pedido de investigação protocolado pelo PMDB contra Virgílio. Segundo a Folha de S. Paulo do dia 12 de agosto, reunião de líderes da base aliada e da oposição avançou num acordo para pôr fim à crise, já que todos os partidos estavam sendo prejudicados pela série de escândalos e a própria imagem do Senado estava se desgastando. Na noite desse dia 11, o próprio Sarney teria tido uma reunião com Lula na Granja do Torto para tratar sobre o assunto.

Nos últimos dias, além das denúncias contra Arthur Virgílio, outras lideranças também estão sendo alvo de acusações, como o próprio presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra. Virgílio manteve um funcionário fantasma por dois anos em seu gabinete e teve um personal trainer pago pelo Senado. Já Guerra viajou a Nova Iorque para, segundo ele, tratar da saúde e levou sua filha para a viagem, com as contas pagas pelo Senado.

No Senado, são todos Sarney
O presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), já havia arquivado as 11 denúncias contra Sarney, protocoladas pelo PSDB e o PSOL. Nesse dia 12, mesmo após dizer que as denúncias apresentadas pelo PMDB contra Arthur Virgílio eram “consistentes”, ele mandou arquivar o processo contra o líder tucano. Isso mostra que o acordão no Senado está adiantado e, tanto o governo quanto a oposição de direita, já preparam a pizza que vai selar a história do escândalo na Casa.

Já o PT, apontado como o fiel da balança que vai definir se as representações contra Sarney serão desarquivadas ou não, hesita em explicitar qualquer posição, mas trabalha para o arquivamento definitivo das denúncias. A ideia da bancada, liderada por Aloizio Mercadante, é votar pelo desarquivamento de pelo menos uma denúncia contra Sarney, trabalhando posteriormente para absolvê-lo.

Conseguiriam, desta forma, não bater de frente com Lula e Sarney e, ao mesmo tempo, limpar a barra com a opinião pública. Pelo menos, é o que eles acham.

A verdade, porém, é que o escândalo do Senado mostra a cada dia que essa oposição de direita do DEM e PSDB é tão corrupta quanto Sarney e a base aliada do governo. No Senado, são todos Sarney. A corrupção é uma marca intrínseca da instituição.

Torna-se, assim, cada vez mais importante levar o “Fora Sarney” às ruas, assim como a exigência do fim do Senado. Só a mobilização é capaz de pôr esse Senado corrupto abaixo.