Ironicamente, na última sexta-feira 13, PT, PSDB e PFL celebraram um acordo sepultando a CPI para preservar banqueiros`AnteroA Comissão Parlamentar de Inquérito mista foi instalada em junho do ano passado para investigar a evasão de divisas da ordem de US$ 30 bilhões entre 1996 e 2002, através das contas CC-5. A comissão investigou 412 mil operações suspeitas, quebrando o sigilo bancário de 1.700 pessoas, inclusive de banqueiros, grandes empresários e políticos poderosos. Porém, depois do vazamento de informações sigilosas sobre os escândalos envolvendo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, o governo Lula iniciou uma operação para enterrar a CPI no Congresso Nacional.

A gota d’água para “acelerar” a conclusão da CPI foi a quebra do sigilo fiscal e bancário que atingiu em cheio o coração do sistema financeiro do país. A comissão pediu à Receita Federal dados de pelo menos 29 banqueiros, incluindo presidentes e altos executivos de bancos, como Roberto Setúbal (Itaú), Luiz Cappi (Bradesco), Pedro Moreira Salles (Unibanco) e Joseph e Moise Safra (Banco Safra). Todos enviaram dólares ao exterior entre 1996 e 2002 através das contas CC-5.

Isso foi demais para os parlamentares. Investigar um ou outro “café pequeno” tudo bem, mas mexer nas contas dos principais banqueiros do país, além de muitos de seus amigos doleiros, especuladores e financiadores de suas campanhas já é um abuso, pensam assim os deputados e senadores picaretas. Contra a quebra do sigilo dos banqueiros, os líderes do PT, do PFL e do PSDB, em reunião no Congresso Nacional, decidiram que era chegada a hora de dar um basta nos escândalos, antecipando o encerramento da CPI.

Acordo prevê queima dos documentos

Lula deu seu aval para enterrar a CPI do Banestado, numa tentativa clara de impedir que as denúncias reveladas pela CPI causem uma crise institucional de proporções incontroláveis. Os acordos espúrios firmados entre governistas e oposição burguesa prevêem a devolução ao Banco Central ou a incineração de todos os documentos com as quebras dos sigilos fiscais e bancários, conhecidos como “documentos sensíveis”, inclusive dos 29 tubarões do sistema financeiro, que o governo Lula, junto com a oposição burguesa, se esmera em preservar.

O acordo também pretende varrer para debaixo do tapete algumas das maiores falcatruas e maracutaias da história do país. Prova disso é que, pelo acordo, o PT retirou todos os pedidos para que Fernando Henrique Cardoso e José Serra, envolvidos com o empresário Ricardo Sergio de Oliveira, prestassem depoimento à CPI. Ricardo Sergio, que também teve o requerimento de seu depoimento retirado com o acordo, foi o responsável pelo caixa de campanha de Serra e de FHC, sendo também presidente do Banco do Brasil durante o governo tucano. Ele é acusado de inúmeras falcatruas, entre elas o envio de milhões de dólares para contas bancárias em paraísos fiscais.

Em troca, os deputados governistas conseguiram que os banqueiros Henrique Meirelles, Luiz Augusto Candiota, Cássio Casseb e o advogado Roberto Teixeira não sejam convocados para depor na CPI.

“Amigo meu, e compadre de Lula”

A divulgação de um diálogo entre parlamentares do PT, gravado pela TV Senado, depois de uma das sessões da CPI do Banestado, mostra que o governo petista também está envolvido com muito mais escândalos do que os que já foram revelados.
Em conversa gravada, o relator da CPI, José Mentor (PT-SP), discute com outros parlamentares petistas como impedir a convocação na CPI do advogado Roberto Teixeira. Mentor declara que Teixeira não pode ser convocado porque isso poderá prejudicar ainda mais a imagem do presidente Lula, e argumenta: “Ele é amigo meu, e compadre de Lula”.

Ele diz ainda que tem um “caminhão” de denúncias contra o PSDB e o PFL, e que poderá utilizá-lo para impedir que o “compadre” Teixeira seja convocado a depor.

O relator petista de fato possui nas suas mãos praticamente a totalidade dos documentos adquiridos pelas investigações da CPI. Contudo, orientado diretamente pelo Planalto, impede a sua divulgação e a apuração de todas as operações ilegais realizadas durante o governo FHC. Isso porque o governo do PT possui muitas relações com os magnatas do sistema financeiro.

Relator do PT propõe anistia a corruptos

Porém, as vergonhosas negociatas do governo para acabar com a CPI não param por aqui. O relator, José Mentor, está propondo a anistia para quem enviou dinheiro de forma irregular ao exterior. Isso mesmo, o deputado petista está propondo que nenhum dos indiciados pela CPI sejam punidos. Segundo o relator, os valores estimados pelo governo entre US$ 70 bilhões e US$ 120 bilhões poderiam ajudar o país caso retornassem. Segundo suas próprias palavras, enviar dinheiro para o exterior para lavá-lo em bancos nos paraísos fiscais, não é crime: “Não estamos tratando de dinheiro fruto de crimes”.

A proposta do bondoso relator ainda prevê que doleiros e corruptos de toda espécie, que atuaram impunemente sob o governo FHC lavando dinheiro no exterior, sejam estimulados a trazer seu dinheiro de volta por meio de redução de impostos. Um absurdo sem limites.

É preciso tornar público o conjunto de documentação reunida, o “caminhão“ de denúncias de Mentor.

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