Matar e caluniar índios e a destruição ambiental não ficaram apenas no nosso passado. Infelizmente, são ainda parte do presente. Na semana passada, uma manifestação dos povos indígenas do Xingu contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte serviu como pretexto para os povos indígenas como “representantes do atraso e da barbárie”.

A manifestação ocorreu durante uma palestra do engenheiro da Eletronorte, em Altamira (PA). Ele defendeu a construção da usina hidroelétrica, um tema cercado de grandes e históricas polêmicas. Com palavras provocadoras, o engenheiro instigou os índios. Ele disse que não adiantariam os protestos, pois a hidrelétrica seria construída de qualquer maneira.

Os índios Kaiapós se sentiram agredidos e reagiram. Eles tentaram amedrontar o engenheiro, que acabou sofrendo um corte no braço. O episódio foi um prato cheio para a grande imprensa reacionária. Os Kaiapós foram tratados pelos jornais como “selvagens” e promotores da “barbárie”.

Um fato semelhante ocorreu em 1989, quando os índios protestaram pela primeira vez contra a construção desta hidrelétrica. Na ocasião, uma índia Kayapó encostou a lâmina de seu facão no rosto do então presidente da Eletronorte num gesto de advertência.

Polêmica histórica
Há décadas, os governos desejam construir a nova hidroelétrica. No entanto, o projeto é recheado de polêmicas quanto ao impacto ambiental e para as comunidades indígenas. Especialistas alegam que o Xingu é um rio sazonal, que tem o seu volume de água extremamente reduzido em boa parte do ano. Mesmo assim, o governo argumenta que a usina terá capacidade para gerar 11.000 megawatts. Isso representaria quase o dobro da capacidade somada das duas usinas do rio Madeira, Santo Antônio e Jirau.

Enquanto a polêmica aumenta, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, já confirmou a realização de um leilão da usina hidrelétrica para 2009. O fato de o licenciamento para ela ainda não ter sido concedido foi completamente ignorado. Algo que mostra de que lado o governo está nesta questão.

“Em nome do progresso”
Outra grande polêmica envolvendo a questão indígena é a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. A reserva é motivo de disputa entre fazendeiros ávidos pelas terras e por suas riquezas e índios. No dia 5 de maio, dez índios foram feridos por um ataque a tiros de espingardas, promovido por pistoleiros encapuzados a mando do prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartieiro. No entanto, apesar de ser de uma ação covarde e criminosa, a grande imprensa tratou o episódio como se fosse um confronto entre indígenas e seguranças do prefeito invasor da terra indígena.

Acontece que estes setores defendem os interesses de fazendeiros que desejam ampliar o agronegócio. Gente sem escrúpulos que pretende destruir florestas para exploração da madeira e da biodiversidade.

Por outro lado, os conflitos de Raposa Serra do Sol possuem relação direta com os protestos Kaiapós em Altamira. A construção de hidroelétricas pretende utilizar as águas dos rios da Amazônia para produzir energia hidráulica que dará suporte aos grandes empreendimentos do agronegócio e das transnacionais. Para isso, é necessário se livrar das pendências legais, jurídicas, ambientais e indígenas. Em outras palavras, é preciso remover os “penduricalhos”, como disse o presidente Lula.

Aliado ao agronegócio, o governo federal cumpre esse papel com exatidão nefasta. Neste ano, foram cortadas do orçamento indigenista verbas de programas como “atenção à saúde dos povos indígenas”, que sofreu um corte orçamentário de R$ 65,1 milhões; programa de “promoção, vigilância, proteção e recuperação da saúde indígena”, redução de R$ 53,4 milhões. Outros programas importantes também sofreram drásticos cortes, como a de demarcações de terras indígenas, reduzido em R$ 5,3 milhões.

Como se não bastasse, a impunidade também marca este governo na questão indígena. O Conselho Missionário Indigenista (Cimi) denuncia que, no ano passado, 92 lideranças indígenas foram assassinadas.

Parece existir uma divisão de tarefas entre governo e grande imprensa burguesa. O primeiro deixa encolher os programas indígenas e nada faz para conter os crimes contra os índios. Já o segundo, promove uma verdadeira “caça às bruxas” que em nada deve aos tempos do Brasil colônia. Mas ambos estão unidos em defender os interesses do agronegócio e tratar os índios como criminosos, porque estes não abandonaram suas terras, nem sua cultura. Um “crime” que o capitalismo não perdoa.

  • Leia nota do Conselho Indigenista Missionário