Protesto contra golpe de Estado no Paraguai

Apesar de discurso, Brasil não cogita romper relações com o novo governoNa mesma tarde desse 22 de junho em que o Senado do Paraguai, comandado pelos partidos da direita mais corrupta do país, implementava o golpe branco e destituía o presidente eleito Fernando Lugo, veículos de comunicação de todo o mundo traziam a notícia de que o governo Dilma ameaçava “expulsar” o país do Mercosul, entre outras sanções.

A realidade, porém, é bem outra. Uma vez deflagrado o golpe, o papel do Brasil se resumiu a emitir opiniões genéricas sobre o assunto e, na prática, não toma qualquer medida contra os golpistas. O Itamaraty convocou o embaixador brasileiro no Paraguai, Eduardo Santos, a Brasília para “prestar esclarecimentos”, mas isso não significou a sua retirada do país.

Publicamente, o governo evita até mesmo utilizar o termo “golpe” e indica que defenderá apenas sanções simbólicas ao novo governo, que não afete economicamente o país. Ruptura das relações diplomáticas, então, está fora de cogitação. Um bloqueio econômico para um país como o Paraguai, sem saída para o mar e dependente do mercado externo, seria um forte elemento de pressão contra o governo golpista.

Lavando as mãos
O assessor especial para a política externa, Marco Aurélio Garcia, chegou a declarar, no dia 24, que o governo espera que a “crise se decante” para o país tomar alguma decisão sobre o tema. Neste dia 25, Garcia, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota e a própria presidente Dilma se reuniram para tratar sobre o golpe no Paraguai, mas nenhuma declaração foi divulgada.

Segundo a imprensa, o governo Dilma articula nos bastidores para que a Unasul e o Mercosul puna apenas “politicamente” o governo golpista, excluindo-o, por exemplo, de suas instâncias de deliberação até as novas eleições em 2013. Assim, a única consequência para os golpistas seria a ausência do presidente empossado Federico Franco nas reuniões do bloco. Tal posição foi reforçada pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) nesse dia 26.

Esta situação repetiria o que ocorreu em Honduras após o golpe contra Manuel Zelaya, em 2009. As vistas grossas de parte da comunidade internacional serviriam ao novo governo conduzir o impasse político até as eleições, quando poderia finalmente se legitimar e consolidar-se no poder.

Interesses em jogo
Nada melhor que essa posição “neutra” para os latifundiários e a direita no país que, através do Partido Colorado e o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), impuseram o “golpe parlamentar”. Inclusive para os chamados “brasiguaios”, fazendeiros e latifundiários de origem brasileira que detêm grande parte das terras no país (mais de 70% da produção agropecuária) e que pressionavam Lugo a reprimir (mais) os sem-terras (“carperos”).

Os “brasiguaios” não só apoiam o presidente Franco como participaram ativamente do golpe, e agora pressionam o governo brasileiro para que não haja sanções contra o país. Nesse dia 26, representantes dos “brasiguaios” se reuniram com a Frente Parlamentar Agropecuária, em Brasília para reforçar a pressão no governo.

Sanções e bloqueio comercial, porém, afetariam interesses poderosos não só no Paraguai. O Brasil exporta ao país quase 3 bilhões de dólares ao ano, grande parte desse valor em produtos industrializados. Num momento em que a indústria patina, o governo e as multinacionais não querem um entrave nesse mercado. Para o governo Dima, tais interesses parecem bem mais concretos que a democracia no país vizinho.

É necessário exigir do governo Dilma uma posição clara de não reconhecimento do governo golpista do Paraguai, assim como a ruptura de relações diplomáticas e comerciais.

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Nota da seção da LIT no Paraguai sobre o golpe