Confrontos na Praça Sintagma, centro de Atenas

Milhares vão às ruas protestar contra novo plano de cortes exigido pela troikaOs trabalhadores e a juventude da Grécia realizaram nesse dia 26 de setembro uma das maiores greves gerais desde o início da crise econômica e social que assola o país, há cinco anos em recessão.

Foi a primeira greve geral contra o frágil governo de Antonis Samaras, da Nova Democracia, eleito nas últimas eleições em junho com estreita margem sobre o Syriza (29,7% contra 26,9% ). Apesar de defender os acordos com a troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI), Samaras venceu as eleições prometendo flexibilizar os planos de austeridade que, ao contrário, endurecem cada vez mais.

A greve, que atingiu tanto o setor público quanto privado, foi deflagrada contra mais um plano de cortes exigido pela troika e negociado pela Nova Democracia e o Pasok, partido ‘social-democrata’ que integra o governo de coalizão. Cerca de 100 mil pessoas marcharam na capital Atenas, confluindo num grande protesto na Praça Sintagma, em frente ao parlamento grego.

As palavras de ordem e os cartazes denunciavam a troika, os cortes no orçamento e o enorme abismo social em que o país se afunda. “Eh!, eh!, eh! Oh!, oh!, oh! Peguem no vosso memorando e vão-se embora daqui! Xô!”, cantavam os manifestantes. “Não aguentamos mais, estamos sangrando. Não podemos criar assim nossos filhos” relatou à imprensa uma professora de 54 anos que acompanhava a marcha. Com quatro filhos, a professora é obrigada a sobreviver com apenas 1.000 euros por mês (equivalente a R$ 2.600,00).

“Ontem os espanhois saíram às ruas, hoje somos nós, amanhã serão os italianos e, depois de amanhã, a Europa inteira”, afirmou o dirigente do ADEDY (central sindical dos trabalhadores públicos) Yorgos Harisis. Também convocou a greve geral de 24 horas a central GSEE, que representa os trabalhadores do setor privado.

Na praça Sintagma, a polícia reprimiu violentamente os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo, prendendo pelo menos cem ativistas e ferindo outras dezenas de pessoas.

Mais sacrifícios em favor dos bancos
O mais recente pacote de austeridade negociado na Grécia prevê cortes da ordem de 11,5 bilhões de euros (além de mais 2 bilhões em aumento nos impostos), condição para o país ter acesso a uma linha de crédito de 31,5 bilhões, parte do resgate de 173 bilhões acordado em maio. Para alcançar essa meta, o governo deve cortar aposentadorias e salários, além do compromisso de demitir 150 mil funcionários públicos até 2015. Cogita-se ainda a elevação da jornada de trabalho.

A troika, em recompensa, exige cortes cada vez maiores. O ministro das Finanças da Grécia, Yannis Stournaras desabafou com o representante europeu do FMI: “Vocês se dão conta do que estão pedindo? Vocês querem derrubar o meu governo?”. A representante do imperialismo alemão e francês, por sua vez, parece pouco preocupada com as repercussões políticas de suas imposições.

Já foi aprovado recentemente o aumento da idade mínima de aposentadoria, de 65 para 67 anos. Ao mesmo tempo em que a troika exige cortes cada vez maiores, a recessão em que o país está imerso deixa um rastro de 24% da população desempregada (53% dos jovens) e mais de um quarto do povo grego abaixo da linha de pobreza.

A greve geral desse dia 26 aponta para o recrudescimento das lutas contra o governo grego, em que pese os limites representados pelas direções sindicais. Desde 2008 já foram contabilizadas 22 greves gerais de 24 horas e duas de 48 horas no país. Mesmo que o governo de Samaras e a troika dêem mostras inequívocas de que continuarão a aprofundar os cortes até jogar a juventude, os trabalhadores e os aposentados gregos no mais absoluto caos social, as direções negam-se a convocar uma greve geral por tempo indeterminado.

As mobilizações que ocorrem agora em Madri e no Estado Espanhol (nesse dia 26 houve greve geral no País Basco), além das recentes mobilizações em Portugal, por sua vez, apontam para uma radicalização cada vez maior contra a troika e os planos de austeridade na Europa. Mobilizações que estão cada vez mais atropelando as direções burocráticas sindicais e seus entraves ao desenvolvimento da luta.

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