Assessores brasileiros irão auxiliar na superexploração dos haitianosNo dia 18, o Haiti parou para assistir a seleção brasileira golear, por 6 x 0, seu próprio país no jogo promovido pelo governo Lula. Como denunciamos em edições passadas, esporte à parte, o jogo foi um lamentável golpe de marketing, na medida em que o governo se utilizou de uma das maiores paixões dos trabalhadores brasileiros e haitianos para mascarar o serviço sujo que está fazendo para ajudar o imperialismo.

Para quem assistiu ao jogo, contudo, foi impressionante ver a empolgação dos 15 mil haitianos que lotaram o estádio e dos outros milhões que acompanharam a partida país afora. Uma empolgação que muita gente tentou interpretar como apoio à presença brasileira no Haiti, mas que na verdade se deve muito mais à identificação racial que o povo haitiano (que formou a primeira república negra das Américas).

Mas nem a farsa do chamado “Jogo da Paz” conseguiu encobrir o verdadeiro papel e as reais intenções do Brasil no país caribenho. Que o governo Lula está no Haiti para fazer o trabalho sujo de Bush (que anda pra lá de ocupado com o Iraque), nós já sabíamos há muito. A novidade é que, agora, além de colocar 1,2 mil soldados a serviço da repressão do povo haitiano, também sabemos que o governo pretende enviar técnicos de vários ministérios (Agrário, Social, Minas e Energia e Saúde) para fazer serviços e negócios escusos, que envolvem a superexploração dos trabalhadores.

A partilha do Haiti

A participação dos técnicos brasileiros foi discutida na Conferência Internacional de Doadores para o Haiti, realizada no final de julho, em Washington. Herdeira direta das conferências que os velhos colonizadores faziam até o século 19 para repartir o mundo, a reunião discutiu uma espécie de partilha do país. Vários governos, empresas e instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) decidiram “doar” (leia-se investir) US$ 1,085 bilhão para a “reconstrução” da ilha caribenha. O uso do dinheiro será monitorado por um dos principais braços do imperialismo e seu projeto de recolonização: o Banco Mundial.

O fato é que a tal “reconstrução” é na verdade um projeto de superexploração. Vários ativistas haitianos presentes no Fórum Social das Américas, realizado em julho, no Equador, testemunharam que a “reconstrução” seria um pretexto para que empresas têxteis norte-americanas – as lamentavelmente famosas maquiladoras – possam se instalar numa espécie de “zona de livre-comércio” existente no norte do Haiti. Os tais assessores técnicos brasileiros estariam a serviço desse jogo sujo.

Camille Chalmers, dirigente do Movimento em Defesa do Desenvolvimento Alternativo no Haiti, declarou a um jornal online argentino: “O Brasil é muito querido aqui por causa do futebol. Mal sabem os haitianos que, aqui, os brasileiros têm ordem para matar, caso seja necessário. A chamada força de paz liderada pelo Brasil, se auto-denomina ‘força de reconstrução’. Na realidade são forças de exploração e por isso nós nos sentimos como o Iraque”.

Como se vê, para satisfazer o imperialismo, o governo Lula está disposto a fazer qualquer jogo.
Post author Yuri Fujita e Wilson H. da Silva, da redação
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