Na semana passada, dois repórteres japoneses foram espancados por paramilitares chineses enquanto cobriam os eventos do atentado ocorrido em Xinjiang, região noroeste da China, na qual 16 policiais foram mortos. O episódio, somado ao bloqueio da internet pelo governo chinês, colocou em questão a censura que existe há décadas no país sede dos Jogos Olímpicos.

Os dois jornalistas foram detidos em frente à delegacia que foi atacada pelos supostos terroristas. Os jornalistas foram levados até o quarto de um hotel próximo, onde permaneceram por duas horas. Após a sessão de espancamento, os jornalistas japoneses foram liberados.

Para realizar os Jogos, o governo chinês comprometeu-se a liberar o acesso à internet tanto para a imprensa quanto para os turistas. Mas depois disse que garantiria à imprensa o acesso à internet “conveniente e suficiente”. Ou seja, o governo é quem decide o que os jornalistas podem ver.

O governo chinês usa um sistema de censura e vigilância chamado Escudo Dourado. Entre 30 mil e 40 mil policiais dedicam-se a “purificar a internet” de acordo com as ordens do presidente Hu Jintao. Por exemplo, estão proibidas expressões como “independência do Tibete”, “democracia na China” ou mesmo “massacre de Tiananmen de 1989”. Não é possível sequer acessar a página da ONG Anistia Internacional. “Prometemos acesso livre, com exceção de alguns sites que ameaçam nossa segurança e o crescimento saudável de nossa juventude”, disse Wang Wei, do comitê organizador da Olimpíada.

No entanto, com a tecnologia cada vez mais avançada, começa a parecer ingenuidade querer controlar a internet num país com 220 milhões de usuários. Um grupo de hackers alemães criou um pen drive carregado com programas que redirecionam o tráfego na internet por diversos computadores em todo o mundo, evitando que o usuário seja identificado e enganando o governo chinês.

E não é só. Há quem diga que o governo chinês limpou as ruas de Pequim e colocou os ativistas indesejáveis em prisão domiciliar ou em detenção sem julgamento em campos de trabalho forçados. No dia 6, quatro estrangeiros foram expulsos porque colaram cartazes a favor da independência do Tibete.

Sobrou até para os integrantes da velha guarda da escola de samba Vila Isabel. Convidados pelo governo chinês para se apresentar em Pequim, eles passaram dois dias enclausurados num dos camarins do Grande Salão do Povo, comendo sanduíches no chão e sem poder fazer barulho com os instrumentos.

Tanta preocupação com as “más influências” não significa que o governo pretende proteger o país das ameaças capitalistas e preservar o socialismo. Os países imperialistas estão mais do que satisfeitos com a política econômica de semi-escravidão da China e sabem muito bem que perderiam tentando derrubar este país do “socialismo de mercado”.

O que o governo chinês teme é justamente a insatisfação interna com essa política que distribui os fabulosos lucros entre uma minoria e cala a maior parte da população. Não quer que o povo se arme nem tenha meios de se insurgir pelo verdadeiro socialismo.