Lula brinca com fotógrafos
Marcelo Casal Jr. / Ag. Brasil

Lula aumenta publicidade estatal nas Organizações GloboSabe-se que, para escoar o dinheiro da corrupção, os governos escolhem as áreas em que a pilhagem torna-se menos perceptível, pelo volume de recursos mobilizados. Não é à toa a predileção que o ex-prefeito da capital paulista e hoje indiciado pela Polícia Federal, Paulo Maluf, tinha pelas obras faraônicas e dispendiosas, situação que popularizou o slogan “rouba mas faz”.

Sem como implementar grandes obras, o governo Lula apelou às verbas de publicidade. Foi desta forma que o escândalo do mensalão trouxe à tona o papel cumprido pela Secom, a Secretaria de Comunicação do governo federal, então chefiada por Luis Gushiken. O empresário mineiro Marcos Valério, apontado até agora como operador do mensalão, cada vez mais aparece apenas como a ponta do iceberg num mega-esquema de desvio de recursos públicos.

O esquema dirigido pelo governo Lula aumentou e concentrou as verbas federais de publicidade. Reportagem publicada no dia 5 de setembro no jornal Folha de S. Paulo dá conta que 86% de todos os recursos do governo são destinados a apenas seis estatais. O gasto de publicidade do Banco do Brasil e Petrobras teve um acréscimo de 63%, contabilizando R$ 401,7 milhões.

Quem desfruta da conta de publicidade da Petrobras é o publicitário Duda Mendonça, que recentemente confessou ter recebido R$ 10,5 milhões do PT referente à campanha eleitoral do partido em 2002 através de uma conta ilegal no exterior. Depois da confissão, o publicitário perdeu a conta da Presidência da República, mas manteve os contratos com a estatal do petróleo e o Ministério da Saúde. Marcos Valério, de quem Duda afirma ter recebido o pagamento das campanhas do PT, disse que trocaria todas as contas que perdeu depois de ter caído em desgraça pelas que Duda ainda possui hoje.

Calcula-se que só o governo federal gaste algo em torno de R$ 871 milhões em publicidade. Os Correios, que nem mesmo disputam mercado com empresas concorrentes, gastam R$ 61 milhões em propaganda. A mesma reportagem afirma que os governos municipais e estaduais e o governo federal gastam, juntos, cerca de R$ 3 bilhões com publicidade.

Globo e o PT: Tudo a ver?
Além de aumentar e concentrar essas verbas, abrindo uma avenida à corrupção, os recursos contabilizados mostram um enorme favorecimento de determinadas empresas de mídia. Enquanto o governo FHC destinou, em 2002, R$ 260 milhões para publicidade oficial em veículos das Organizações Globo, o governo Lula gastou em 2004 nada menos que R$ 335 milhões para as empresas do falecido Roberto Marinho. Além de ter aumentado os recursos, a Globo também recebeu maior participação no repasse do governo, se comparado aos outros grupos de mídia. Enquanto o ex-presidente tucano deixou 37% das verbas publicitárias em seu último ano de mandato à empresa, Lula destinou 42,5% das receitas à Globo no ano seguinte e 38,4% em 2004.

Em 2004, os recursos para a empresa da família Marinho foram, em sua maioria, repassados à Rede Globo (R$ 287 milhões). O restante foi distribuído para rádios, como a Rádio Globo e a CBN, além de jornais como O Globo.

Ministro da Globo
Além disso, o novo ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), é um político próximo do grande empresariado de mídia, particularmente da Rede Globo. Alçado à condição de ministro numa frustrada reforma ministerial em que Lula tentava comprar o apoio do PMDB, Hélio Costa já deu mostras dos beneficiários de sua gestão. Na discussão sobre o novo modelo de TV digital, o ministro é contra o estabelecimento de um padrão nacional, beneficiando a Globo e grupos estrangeiros.

Costa também é contra a adoção do software livre em áreas públicas, medida que poderia economizar milhões em royalties às multinacionais. A gestão do ministro já provocou uma petição que circula na internet exigindo sua saída imediata.