Governo Federal tenta tomar faturamento da fábrica, para saldar dívidas feitas pelos antigos donos, que chegam a R$ 30 milhõesDesde que assumiram o controle das empresas para salvar seus empregos em novembro de 2002, os trabalhadores da Cipla/Interfibra de Joinvile (SC) vêm sofrendo ameaças de leilões, prisão, destruição do parque fabril e, conseqüentemente, de seus postos de trabalho.

Apesar de já ter encaminhado negociações referentes às dívidas trabalhistas das empresas com a Justiça do Trabalho, a Comissão de Fábrica está sendo ameaçada por órgãos do próprio governo federal, que há mais de dois anos promete ajudar mas nada faz.

Cobranças milionárias da Previdência e Fazenda, que durante a administração patronal nunca foram feitas, agora desabam sobre as fábricas ocupadas com ameaças de penhoras de máquinas e de faturamento. Se não forem pagas, resultam na prisão de dirigentes. Somente nos últimos 15 dias, a soma das ações de cobrança da Previdência Social e Fazenda contra a Cipla chega a R$ 30 milhões.

No dia 29 de março, estiveram na Cipla sete oficiais da Justiça Federal com um mandado de penhora mensal de 15% do faturamento da empresa, o que inviabiliza o funcionamento delas. Caso esse pagamento não seja feito até o dia 5 de cada mês, o coordenador administrativo e financeiro da Cipla/Interfibra pode ser levado à prisão. A Comissão de Fábrica já decidiu que não vai depositar, já que isso impediria o pagamento dos salários.

Uma luta por emprego
A ocupação das fábricas em Joinvile teve início em novembro de 2002, após uma crise insustentável, na qual os donos das fábricas já haviam deixado de pagar salários, direitos trabalhistas, já não faziam mais o repasse ao INSS e estavam entrando em falência. Para salvar seus empregos, os operários resolveram se mobilizar, realizando greves e parando a produção. O processo de mobilização culminou com a tomada da fábrica pelos trabalhadores, que passaram a gerir a produção.

De imediato, as negociações com a Justiça sobre as dívidas trabalhistas foram encaminhadas e foi definido um modelo de gestão no qual todos tomariam as decisões sobre os rumos da fábrica via assembléia. A assembléia geral elegeu a Comissão de Transição, que ficou responsável pelo levantamento das dívidas reais das fábricas. Também foi eleito um Conselho de Fábrica, formado por aproximadamente 50 delegados que representam os setores da fábrica. Desde a tomada do controle de fábrica, foi decidido que ninguém seria demitido, exceto quando for pego roubando ou danificando a fábrica.

Dia 23 de outubro de 2002, quatro dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, Lula fez um comício em Florianópolis. Os trabalhadores da Cipla/Interfibra foram até a capital em três ônibus, para entregar uma carta, assinada por 70 mil pessoas, reivindicando que Lula salvasse os empregos na Cipla/Interfibra e estatizasse as fábricas, garantindo cerca de mil empregos.

No dia 11 de junho de 2003, houve uma audiência com o presidente para discutir o futuro dos empregos, para a qual 350 pessoas da Cipla/Interfibra foram para Brasília. Na audiência, o presidente Lula disse que não iria estatizar a fábrica, mas se comprometeu a salvar os empregos. Lula criou um grupo de trabalho com representantes do Ministério do Trabalho, da Previdência, da Indústria e Desenvolvimento, da Fazenda e do BNDES. O grupo de trabalho se reuniu três vezes, mas não propôs nada. Lula passou a decisão final para o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que não se posicionou até agora.

Mobilizações
Diante da falta de ação do governo e das ameaças, que até hoje não fez nada para resolver os problemas dos operários, a comissão pretende ampliar a mobilização. Por tudo isso, no dia 31 de março, haverá no centro de Joinvile um ato público. Os trabalhadores exigem uma audiência com a Presidência da República, ministros da Previdência e Fazenda para reiterar o pedido de estatização das fábricas.