O PCdoB é um dos aliados mais fiéis ao governo. Ocupa cargos importantes em secretarias e ministérios. Nas teses para o seu próximo congresso, publicadas no fim de junho, repetem, à sua maneira, a tese de disputar os rumos do governo: “A situação tem uma complexidade maior pela feição contraditória do governo real, que vive uma disjuntiva entre resistência e cedência, porquanto exige do PCdoB uma atitude de puxar e estimular na primeira situação e criticar e se contrapor na segunda”.

Mas a tal “disputa” não passa de mera justificativa para esse partido manter os seus cargos ministeriais e as benesses materiais do Estado. O PCdoB participa do governo por meio do ministro dos Esportes. O atual presidente da Eletronuclear, Paulo Figueiredo, indicado pelo PCdoB, fazia parte da administração do Núcleos (fundo de pensão das estatais de energia nuclear) e é acusado de desvio de verbas do fundo para campanhas eleitorais. A UNE, dirigida pelo PCdoB, já recebeu do governo, só neste ano, mais de R$ 1 milhão.

É impossível também esquecer o papel de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-coordenador político de Lula, na liberação dos transgênicos. Ele, ao lado de José Dirceu, visitou Roberto Jefferson no início da crise política para tentar convencê-lo a não falar.

Fica Lula???
Na manifestação chapa-branca do dia 16 de agosto, o PCdoB lançou a palavra de ordem “Fica Lula”. Segundo um artigo de Renato Rabelo, presidente do partido, “hoje, a disputa está entre Fica Lula x Sai Lula. Mesmo a mera intuição comunista nos indicaria que nossa posição é no Fica Lula, pois quem ganha com a saída de Lula – seja de que maneira for – são os conservadores, os reacionários”. Assim, Rabelo tenta corroborar a tese de que as denúncias de corrupção fazem parte de um “golpe das elites” contra o governo e que a estratégia do PSDB/PFL seria a aprovação do impeachment de Lula. Tenta dessa maneira confundir os ativistas dizendo que toda manifestação contra o governo “faz o jogo da direita”.

Em primeiro lugar, bem diferente dos delírios do PCdoB, as forças reacionárias, conservadoras, portanto, as elites, nem sonham em patrocinar golpe algum contra o governo. Por um motivo simples: o PT governa para a burguesia. Em nenhum governo, a burguesia, em particular o setor financeiro, lucrou tanto. Em três anos de governo petista, o lucro líquido das empresas cresceu 71% (totalizando R$ 27,4 bilhões), enquanto o lucro dos bancos cresceu 49,3% (totalizando R$ 9,2 bilhões). Esse fato levou o consultor financeiro do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, a comentar, não sem ironia, que “o governo popular democrático é um excelente negócio para o capital como um todo”.

A oposição burguesa, por sua vez, rechaça a hipótese de impeachment de Lula. O próprio PCdoB, embora continue a brigar contra a realidade, é obrigado a reconhecer isso. “Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu que a estratégia do tucanato é o sangramento do governo Lula com o objetivo de desgastá-lo publicamente até as eleições presidenciais ano que vem”, diz artigo no portal do partido em 29 de agosto.

Em segundo lugar, ao qualificar todas as lutas contra o governo, como a marcha da Conlutas do dia 17, como protestos que fazem o “jogo da direita”, o próprio PCdoB acaba, de fato, fazendo o jogo da burguesia, porque abandona a construção de um outro pólo classista e de oposição de esquerda ao governo. Assim, ajuda a oposição de direita a se fortalecer como alternativa diante da crise política.
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